sábado, 16 de junho de 2018

INSPIRA, EXPIRA, INSPIRA...

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Fotografia de AC
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Manhã de sábado, de pretensa tranquilidade.
Toca a campainha. Não é o vizinho, não é o carteiro, não é um familiar. Apenas alguém, assumido portador da verdade, a querer conversar, como se a fé se vendesse porta a porta.
Retine o telefone. Não é o vizinho, não é um amigo. Apenas alguém, com entoação estudada, preocupado com a minha qualidade de vida.
Ligo o televisor. Verdade, verdadinha, todos os canais defendem, com maior ou menor subterfúgio, uma verdade: a de quem mais lhes paga, mas sempre em meu abono.
Vou lá para fora. Calço as botas, ponho o chapéu e irrompo pelo vasto terreno. Cruzo-me com pereiras, macieiras, nespereiras, cerejeiras. Olho para estas com um carinho especial, ou não fossem elas, no seu esplendor, fruto da enxertia de quem pouco ou nada sabe destas coisas, mas a quem sobra ousadia. Estão apetitosas, as cerejas!
Continuo de encontro às nespereiras, macieiras, oliveiras e amendoeiras, prossigo por rosmaninhos, papoilas, giestas, eu sei lá que mais. Isto para não falar de gafanhotos e formigas, borboletas e abelhas, de toda a espécie de plantas silvestres. Por mais que olhe, nada se me afigura querer chegar-se à frente, cada ser cinge-se ao seu lugar. 
A pausa, sempre a necessária pausa, com a visão a distender-se, lentamente, com ligação directa à alma. E, vá lá saber-se o porquê, às tantas dou por mim a tentar acompanhar, desajeitadamente, o concerto dum pintassilgo.
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P.S. - Domingo, cerca das 18 horas. 
Acabei há pouco de as colher. Vai uma? :)
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24 comentários:

  1. A Natureza ainda é um motivo de descanso e alegria...
    Maravilhoso texto!
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  2. Revi-me totalmente no teu texto e felizmente consigo ir para campos dos outros ou do Estado:)))

    Beijocas e um bom fim de semana

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  3. Quando sentimos que nem no recesso do nosso lar, estamos protegidos da invasão de intrusos, é bom ter por perto um espaço livre onde se possa descansar os olhos e a alma. A Natureza tudo nos dá e nada nos pede em troca...

    Bom fim-de-semana, A.C.

    Um abraço.

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  4. Ao ouvir, agora, os belos trinados do pintassilgo, ao invés de o ver, imóvel, empoleirado no galho de uma árvore, vejo que a tua tentativa de o imitar só poderia ser desajeitada...:)

    Lindas e - presumo - deliciosas, as tuas cerejas!!

    Votos de excelente semana, amigo A.C.!

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  5. A natureza é perfeita, cada ser cumpre sua função!
    Refugio sagrado para aquietar o pensamento!
    Amei ler aqui! As cerejas, uma obra de arte!
    Beijo carinhoso!

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  6. Então não vai? Ou meia-dúzia delas...o que eu gosto de cerejas! :)

    Lembrei-me de voltar a tua 'casa', porque acabei de falar com a minha filha que vai ao Fundão - a trabalho - na próxima quarta- feira. Ficou já a recomendação de trazer uma caixa de cerejas.

    E não é que as tenho aqui à disposição? :))
    Às vezes pareço que sou bruxa!
    Ehehehe

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  7. Belo texto...diante e tantas 'verdades' a natureza tem a palavra final.
    Um abraço

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  8. Claro que sim. Ainda não as provei este ano. Adorei o canto do pintassilgo.
    O texto belíssimo como sempre.
    Abraço e uma boa semana

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  9. Por campainha, por telefone, pela Tv, temos motivos para confiar no futuro ! eheh... Ninguém nos "desampara a loja" e tudo em nosso proveito . Somos uns felizardos com estas preocupações connosco para que nada nos falte ! :(((

    Valha-nos a natureza desinteressada e que, essa sim, tanto nos dá em troca !!! ...
    Como sempre, uma bela reflexão !!!

    Abraço :)

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  10. Poeta , seu texto me faz refletir sobre a beleza da vida .
    O canto do pintassilgo me alegra .
    E as cerejas ?
    Frutas que mais gosto .
    Parabéns , sempre .
    Beijos

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  11. As cerejas trazem-me más memórias.
    Uma congestão horrível da minha avó materna precisamente por causa das cerejas.
    Aquele abraço, boa semana

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  12. Ando tão atrasada, a tentar recuperar o tempo perdido no facebook, e regressas ao blogues amigos é tão bom.

    Obrigada por continuar por aqui.

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  13. Manda vir :)
    Também e dos meus lugares prediletos.
    A TV fica desligada. Se ligada, nunca pára em noticiários. Cada vez que isso acontece surgem homicídios e calamidades. Ou futilidades. Passou a ficar desligada.

    Entre dias de ruído, confusão, transportes, deslocações, pessoas e mais pessoas, o que sabe mesmo bem é essa comunhão com a natureza. A SIMPLICIDADE DA VIDA. Um jardim, uma brisa, um aroma.

    E pássaros a cantar.

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  14. Uma?... Ainda não as provei este ano... sendo assim... deixo o pratinho!... :-D
    E essas... ao contrário das que se vêem nos supermercados... não cresceram à pressa... devem ter o sabor, das de outrora...
    Inspirando... a energia boa, que se respira por aqui... que emana dos encantos da natureza, sem pausa para anúncios de toda a espécie... produtos, serviços, fé... e descrença na humanidade: após ver as crianças mexicanas, separadas dos pais e deixadas em jaulas...
    Até saio daqui, a respirar melhor...
    Beijinho! Continuação de uma excelente semana, AC!
    Ana

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  15. Certo! Pelo menos a natureza nunca falha, apesar de tudo nunca falha, já sabemos o efeito da chuva e do sol e da trovoada e do fogo na natureza. Essa nunca falha

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  16. Como gostaria de ter um paraíso assim, para mim. Na falta de um quinhão de terra fértil, resta me um terraço de betão armado enfeitado com flores, trepadeiras, cactos e suculentas.
    Um paraíso assim como o seu requer muita dedicação, muito trabalho duro, e espírito de sacrifício. O AC já faz parte integrante desta paisagem natural. Mais uma vez, me rouo de inveja ;).
    Beijinho com estima e amizade.

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  17. Já comi cerejas este verão.
    Que DELÍCIA!!

    Não esperava mas são mesmo boas. É o que mais gosto de comer no momento. E nem sou muito dada a fruta.

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  18. Adorável! Adoro cerejas...e tenho comido tantas!

    Bj

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  19. dizem que as conversas são como as cerejas-
    Ao ver estas dá para perceber que seriam.
    gostei de ler e de "escutar" o pintassilgo.
    Brisas doces *

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  20. Quem comunga, assim, por certo está no Paraíso.
    Saber estar em harmonia não é para todos; a maioria das pessoas não está, está em processo de negação, corre o risco de ser excluída da Natureza.

    Há uns tempos atrás vinha aqui e quando pretendia submeter o comentário... népia. Porquê não sei, como diz o poema. Ainda.

    Abraço.

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  21. Já lá vai o tempo das cerejas e chegou o tempo das uvas e a azáfama das vindimas. E o concerto do pintassilgo, continuas a ouvir?
    Belo texto e belo remate, meu amigo AC.

    Beijinho.

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