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Houve um tempo em que conseguia filtrar, de forma eficaz, sem grandes dúvidas, aquilo que de melhor queria para o meu percurso. Pensava que estava no caminho certo, mas as premências da actual conjectura planetária falaram mais alto, rompendo a frágil cortina com que tinha protegido o meu mundo. E, embora me tentasse debater, de forma quase primária, contra as evidências, acabei por aceitar esse facto. E a reformulação das coisas, como é óbvio, subiu à tona. E, paulatinamente, vou observando.
Apesar dum aparente retorno à normalidade, paira no ar o odor a fruta podre. As pessoas tentam sorrir, mas olham de lado umas para as outras; o mercado de trabalho, para a maioria, está mais frágil que uma cabana de palha; o acesso à saúde, direito primário de qualquer cidadão, está cada vez mais dependente do dinheiro, ou de cunhas, que a burocracia, com listas de espera a condizer, está pela hora da morte; o desinvestimento na educação é visível, com os mais abonados a socorrer-se do ensino particular; a cultura definha, com os verdadeiros protagonistas a (quase) implorar, saltando as fronteiras da dignidade, um subsídio de sobrevivência...
Por aqui, local de poiso e abrigo, a horta e as árvores vão correspondendo, juntando as promessas aos frutos. É gratificante, mas não conseguem esconder aquilo que se passa para lá dos muros de conveniência. E eu, sensível às dores do mundo, do qual faço e farei sempre parte, não me posso alhear de tudo o que respira, de tudo o que sente. E o diagnóstico não é bom, podem crer.
Para lá de toda a angústia, e para quem está atento(a), há sempre uma história em contramão, como que a querer contrariar a desdita. E são essas que eu privilegio, contra ventos e marés, que do fatalismo dos velhos do Restelo estamos todos fartos. Acreditar (e praticar a sobrevivência) é fundamental, por mais que os gurus da desgraça apregoem o contrário. É por isso que, nos próximos tempos, irei publicar alguns textos nesse sentido. Por mais que caiam raios e coriscos, apesar de saber que, de boas intenções, com ou sem Dante, está o inferno cheio.
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A partir de hoje, as máscaras deixam de ser obrigatórias na rua. Ai Jesus. Quem olha o mundo tem as preocupações que aflora este texto. Faço minhas as suas preocupações. Só não sei escrever textos com tanta sapiência e categoria. Leio os seus...
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Um domingo feliz
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Desculpa Ricardo há muito que não uso máscara na rua excepto se vir que vou passar por um grupo e ou estar numa fila à espera de entrar. Não uso a conduzir! Mas ando sempre com ela na mão e ponho igualmente em locais fechados.
EliminarJá não é obrigatório a partir de hoje mas compete-nos a cada um de nós ouvir bem os conselhos que são dados.
Desculpa AC ter dado esta dica ao Ricardo pessoa que estimo muito pelo que escreve.
Beijos
Gostei deste teu enorme desabafo e tal como eu quase sempre ando em contramão ao que me afecta assim como aos demais.
EliminarSublinho estas tuas palavras:
E eu, sensível às dores do mundo, do qual faço e farei sempre parte, não me posso alhear de tudo o que respira, de tudo o que sente. E o diagnóstico não é bom, podem crer.
Acredito que a barca a meter água por todo o lado chegará a bom porto. A charanga das campanhas eleitorais é mais do mesmo e já nem oiço mas quando morre alguém de renome como este último até os mais idiotas da política vomitaram belas palavras. Quanta hipocrisia meu Deus!!! e fico por aqui e abraço-te para que te animes ou então correres comigo:)))
Fica bem e mais uma vez foste muito assertivo.
Beijos
AC não sei se o meu comentário ficou no sítio certo porque mal enviei fiquei sem luz...desculpa.
EliminarGostei do seu texto, Estamos num mundo doente.Continue a escrever que gosto de o ler!
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Aos Bombeiros que fazem a diferença...
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Beijo e um excelente Domingo.
Tudo o que disse sobre o mundo aí do seu lado pode ser dito, sem alteração, para o que acontece do lado de cá. Daí que o humor, e não só o meu, anda mais para velho do Restelo, mesmo. Hoje vi algumas pessoas discutindo, em uma rede social, sobre a perda da habilidade em conviver - na vida real, não no universo idealizado da Internet. Para onde vai o mundo?
ResponderEliminarConcordo com o seu texto, um diagnóstico correcto.
ResponderEliminarUm abraço.
Por mais que se pinte de amarelo, a realidade em qualquer lado, na maioria das vezes roça o cinza escuro.
ResponderEliminarNão tenho dúvida que, vou continuar a gostar de o ler, para lá de muito.
Boa noite, sô AC
Copo meio cheio, sempre o copo meio cheio.
ResponderEliminarAbraço, boa semana
Um texto lúcido de quem está atento aos outros. Boa reflexão. É necessário mais do que nunca cultivar a esperança.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
AC, tenho vindo aqui me contagiar da tua escrita, como quem rouba na calada da noite as ideias alheias. Sinto diferenças na tua escrita, mais pausada, mais breve. E me preocupo. Tens sido meu farol nesses tempos estranhos que nos afetam. Estou buscando meu lugar na escrita dos grandes. É um caminho complicado e duro, mas uma porta que abri e não desejo mais que se feche. Fica bem. Aprecio teu texto e tua forma de expressar a vida, saltando aos olhos e pelos poros. Beijo.
ResponderEliminarEu gosto de histórias em contramão, acho que já as escrevi também. Avance, cá estamos.
ResponderEliminar~CC~
Que não se calem as vozes, que continuemos sempre atentos e reflexivos, é disso que o mundo precisa, observação e crítica construtiva. Há muita gente a correr ao sabor das águas, mas é também fundamental saber remar contra a corrente. O importante não é ter olhos, mas sim saber ver.
ResponderEliminarEscreva que nós lemos e aprovamos!
bjs
Em contramão... no sentido que aqui se atribui... é que nos apercebemos mesmo da falta de sentido de tanta coisa que nos rodeia... e estes tempos atribulados, têm-nos feito repensar sobre tanta coisa!
ResponderEliminarExcelente texto, como sempre, AC! Beijinho
Ana