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Hieronymus Bosch, Extracção da pedra da loucura
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Sentou-se em frente da prancha e, pacientemente, esperou que as nuvens que transportava se tornassem gotículas. E elas, paulatinamente, iniciaram o seu bailado, contrariando a gravidade, subindo e descendo, por vezes planando. Havia que agarrar a onda.
Começou a desenhar, freneticamente, o que lhe assomava da alma, qual tempestade cerebral com emergência de emergir. Procurava acudir a todos os focos, a todos os assomos, mas era humanamente impossível. E acabou por ficar um respingo duma ideia aqui, um rabisco duma ideia ali, com muito em branco por preencher. Resolveu adiar.
No dia seguinte voltou a tentar, mas o fundo em branco persistia, dando asas ao desalento. Foi então que, pela janela entreaberta, uma abelha se fez anunciar, esvoaçando pela sala, aparentemente sem rumo. Sobrevoou a prancha, poisou no cortinado e, por fim, após algum atabalhoamento, lá se esgueirou para o exterior, saindo por onde entrara. Num gesto repentino, sentindo a ideia no ar, pegou no lápis, pronto para mais um discorrer com ele próprio. Mas, de súbito, rompendo o código estabelecido, a Inês invade a sala, com ar apreensivo, balbuciando um porra entre dentes:
- Zé! A Rússia invadiu a terra da Yaryna!
Foi-se o esboço da inspiração. E ambos, ainda atordoados pela perplexidade, sentiram uma nova onda a surgir, plena de diabos. O Zé rebuscou, à pressa, qualquer tipo de comparação, e mergulhou nas ondas forjadas pelo canhão da Nazaré, aqui mesmo à mão. Mas estas, pela sua insignificância, nem sequer figuravam no mapa das coisas importantes. A nova onda seria indomável?
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E de facto tem sido uma onda dos diabos, mas o povo resiste e seria tão bom que o autor de tantas atrocidades fosse levado pela força de uma onda do canhão da Nazaré.
ResponderEliminarAC eu sei que já se passaram muitos anos mas quando vejo estas imagens as feridas abrem-se e fico por aqui.
Gostei das tua palavras, mas a imagem é horrenda, desculpa.
Beijocas e boa tarde
Gostei de ler... Refleti em várias coisas ...
ResponderEliminar-
Imagens mil, soltam-se em vozes de socorro
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Beijos e um bom fim de semana.
Essa guerra está mexendo com os nervos de todo mundo, até mesmo aqui, tão longe. Mas, em nossos dias, quem é que está realmente longe?
ResponderEliminarMaldita seja a guerra. Maldito seja quem a ordenou e comenda.
ResponderEliminar.
Abraço … domingo feliz
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Quando o poder é cavalgado por loucos, o mundo inteiro fica em perigo.
ResponderEliminarEsperemos que alguém convença o Putin a desistir mas tenho as minhas dúvidas. Os animais ferozes tornam-se ainda mais ferozes quando encurralados.
Abraço, saúde e uma boa semana
este diabo é único.
ResponderEliminarBandido, assassino, cabotino, tem de ser afastado.
Abraço, boa semana
Se a nova onda será indomável, não sabemos. Qualquer pessoa fica sem capacidade de reagir ao que se passa no mundo. Parece até impossível. Tudo tão desajustado, tão injusto, tão ilegítimo.
ResponderEliminarO seu texto tem a capacidade de dizer tanto parecendo não querer dizer nada.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Não há palavras para o indizível!
ResponderEliminarUm abraço
Mal do mundo quando segue os loucos.
ResponderEliminarGostei muito do que escreveu.
As bestas andam soltas, a ver vamos como tudo vai acabar.
Abraço e brisas doces **
Um tsunami que dura há mais de 50 dias... e nos deu a conhecer todos os tons cinza... que julgávamos não mais voltar a ver... que achávamos só pertencerem a outras guerras... de tempos idos...
ResponderEliminarUm belíssimo texto. Quando os diabos se soltam... não há fronteiras de tempo e de espaço... o mundo já andava tão esquecido de tal... apenas fazendo contas aos seus demónios interiores... enquanto outros se foram posicionando, enquanto andávamos distraídos, para reclamar poder e pedaços de mundo... mas... creio que não foram esgotados todas as vias de diálogo para impedir tal... afinal esta guerra, já vem com um historial de há oito anos atrás... a que ninguém foi ligando!...
Enfim! Veremos até onde irá esta onda... para já uma onda de subida imparável de preços... que já começa uma grande parte do mundo económico a afogar... para não falar nos efeitos mais óbvios de tantas perdas inúteis de vidas, sonhos, e tanta destruição inerente...
Um grande abraço
Ana