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Margarida Cepêda, Esperança
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No registo dos dias, com mudanças a desafiar o mais ínfimo dos cânones, tornou-se banal o alerta das palavras, como que querendo mobilizar percepções e vontades.
Em vão. A multidão, inquieta, prescindindo de filtrar a realidade que lhe servem a qualquer hora, parece enveredar pelo fruir enquanto é tempo, demitindo-se da exigência da dignidade. E, obedecendo aos sentidos, aplaude os vencedores, revestidos de efémero néon, relegando para debaixo do tapete aquilo que a pode desassossegar. Gesto inútil, a prescindir de carícias, pois o futuro deixou de contar, quem cá ficar que aprenda a tecer loas ao destino, adiando o inevitável recorrendo a um qualquer ludíbrio. E, por entre os intervalos da hipnose, os pesadelos vagueiam à solta.
Entretanto, num qualquer suposto abrigo, Anarte, mãe e avó, imune à destemperança, continuava a debater-se com questões com muito ade: liberdade, igualdade, solidariedade, dignidade, fraternidade…
Judite, filha e mãe, contorcia-se na contínua procura da solução para pagar as contas.
Arinta, filha e neta, procurava besouros nos fraguedos, após passagem pelo terreno poeirento, com a memória alheia aos últimos pingos de chuva. E, surpreendentemente, acaba por descobrir uma flor numa brecha do terreno. Deslumbrada com a forma, a cor e o aroma, sentiu necessidade de a absorver: como lhe chamar?
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Cada geração tem seus questionamentos e desafios. Quanto a aplaudir os vencedores, parece-me que os aplausos são de curta duração: apenas ressoam enquanto for conveniente, até que outros vencedores se levantem e os antigos sejam, com sorte, apenas esquecidos. Poderiam ter um destino pior.
ResponderEliminarAdorei ler seu texto poético! "No registro dos dias",a sutileza da percepção! Abraços!
ResponderEliminarMuito bem. Gostei de ler!!
ResponderEliminar.
Existem sonhos que foram interrompidos
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Beijos e uma boa semana.
O nome dessa flor eram vários: "liberdade, igualdade, solidariedade, dignidade, fraternidade…", diante de belíssimas palavras. Parabéns por tudo.
ResponderEliminarAbraços,
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/
É isso,AC o ar esta cheio de murmúrios e aplausos sem sons .
ResponderEliminarE vamos aos poucos perdendo o jeito de indignarmos.
Ainda há flores...há meninas há mães e com elas esperanças.
Sua prosa é especial, sempre.
Deixando meu abraço grande.
Tudo se resume afinal a ter uma solução para pagar as contas.
ResponderEliminarO que dizia Mao - primeiro matar a fome ao povo.
Forte abraço
Texto intenso, profundo, poderoso, que muito gostei de ler
ResponderEliminar.
Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e devaneios poéticos
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Os pesadelos vagueiam à solta, é bem verdade. Mas há ainda quem teime em acreditar na humanidade, na sua forma de ser fraterna, de procurar a liberdade, de desejar que tenham todos as mesmas oportunidades. E são muitos os que ainda acreditam. E se procurarem bem ainda se há-de encontrar, seja onde for, essa flor maravilhosa chamada esperança. Tão belo o seu texto e tão inspirador.
ResponderEliminarTudo de bom.
Um beijo.
No actual turbilhão da vida eu sou essa menina porque consigo ver positividade, alegria sem lamechas e animar os meus e quem se abeira de mim!
ResponderEliminarADOREI AMIGO e como sempre és um tremendo escritor.
Beijos e uma boa noite
AC, as multidões são perigosas. Seja onde e por que razão for. A psicologia da multidão, avalio eu que as detesto, pode ser devastadora. Mas, ainda que o não seja, de certa forma, coage, leva a uma reacção que sofre dessa causa: muita gente junta.
ResponderEliminarParece-me estarem aí três gerações distintas. Mas cada uma dessas pessoas pode representar um tipo de pessoa: as que se preocupam com a manutenção dos valores que a norteiam; as que apenas tentam sobreviver nesta selva económica e pouco veem para além dela; as que estão abertas à paisagem e estão libertas de mais preocupações - serão talvez inocentes e intocadas pelo consumismo e outras questões, mas por isso mesmo são capazes de olhar e descobrir a flor.
É o que me ocorre.
Boa noite
Se atentos estivermos, tanto poderemos ver ...Pessoas que refletem sobre a vida, outros que fingem viver...Melhor a menina que curiosa, tudo que saber e até nome à flor tenta dar!
ResponderEliminarSempre lindo te ler! abração, tudo de bom,chica
Lindo, como sempre.
ResponderEliminarNestes tristes tempos onde onde a maioria das pessoas se ocupa com as inutilidades ainda existem flores e olhos que conseguem ver e se interessar por elas. Isso nos dá alento. Nem tudo está perdido.
Grande abraço, amigo.
Belo texto.
ResponderEliminarEssa flor maravilhosa pode ter o nome de esperança, ainda há quem consiga ver, sentir e acreditar na humanidade, no meio de tantas dificuldades.
Uma semana feliz
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ResponderEliminarកីឡា Tannis
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ResponderEliminarOlá, AC, muito boa tarde.
ResponderEliminarTrouxe-me a certeza de que, aqui, iria encontrar uma escrita e reflexão de qualidade. E de que, no meio de uma multidão às vezes sufocante, iria encontrar paz, esperança em dias melhores, a preocupação da mudança.
Obrigada, AC, por esta possibilidade de uma boa leitura.
Seja muito feliz
Maria
AC também fugiste daqui? Desejo que estejam todos bem.
ResponderEliminarBeijocas e um bom dia