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sábado, 23 de maio de 2020

ESBOÇO DE TELA DO TEMPO PARADO

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Imagem tirada daqui
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A meio da tarde, quando a brisa era apenas leve rumor, percorrias o caminho do rio e, de livro na mão, ias sentar-te na velha sentinela granítica, ancorada à beira d'água, plataforma de mergulhos da pequenada nas longas tardes de verão. 
Abrias o livro, tentavas embarcar nas palavras, mas não por muito tempo. A quietude do lugar insinuava-se, parecia querer abraçar-te e, num diálogo silencioso, acabavas por embalar nas águas calmas, onde as libelinhas, numa velocidade estonteante, pareciam bailar por entre os juncos. Mais além, junto do velho salgueiro, um guarda-rios ousava um voo picado na mira de um peixe. Sentias-te bem, divagavas, o tempo parecia querer parar para te ver. 
Quando partias, qual secreta tentação juvenil, escolhias, com esmero, uma pedra achatada e lisa. Depois, num movimento de anca, atiravas com firmeza, na horizontal, deleitando-te enquanto a vias saltitar à superfície da água.
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