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Aproximou-se e, com ar de quem sabe o que está a fazer, levantou a frágil tampa. Lá dentro, no meio dos detritos da abundância, uma ideia desprezada debatia-se, inconformada com a inevitabilidade dos tempos. Pegou numa velha vassoura e varreu a zona contígua ao contentor, tornando-o a estrela do beco. Então pegou numa placa, virou-a e escreveu algo no verso. Depois de a colocar de modo a nela incidir a luz do candeeiro, afastou-se do local.
Quando os almeidas saltaram do camião para recolher o lixo, depararam com uma placa onde, em letras gravadas a fogo, se podia ler: "AQUI AGONIZA O ESPÍRITO DE NATAL".
Naquela noite, no desconcertante beco, o lixo ficou por recolher.
.Quando os almeidas saltaram do camião para recolher o lixo, depararam com uma placa onde, em letras gravadas a fogo, se podia ler: "AQUI AGONIZA O ESPÍRITO DE NATAL".
Naquela noite, no desconcertante beco, o lixo ficou por recolher.
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Depois da "Verdade", descrita de tal forma sublime, vem o "Sinal" que, simbolicamente, nos leva a querer "podar o acessório/colando o essencial" a caminho de uma verdadeira introspecção.
ResponderEliminarPara além da mensagem gravada nessa placa (e já vi que faz parte do "bloco de notas"), o teu texto "agoniza" ainda mais se pensarmos em muitas outras placas, em muitas outras letras gravadas, a ferro e fogo, que vamos lendo ao longo da vida, e de onde continuamos, por vezes, a não recolher o seu verdadeiro valor...
É sem dúvida um texto que permite reflectir sobre o "lixo" que andamos a fazer e sobre a "Verdade" que acabamos por esquecer (metaforicamente falando, claro!).
Agostinho, ainda bem que continuas a gravar todas estas letras no teu blogue... porque na placa que o identifica eu posso ler "AQUI VIVE UM BELÍSSIMO ESCRITOR!"
Tanto verbo, tanta sapiência... tanta pasta de papel branca, tantos rios tisnados... tantas bibliotecas para quê??
ResponderEliminarTantos avanços cientificos e tecnológicos, tantos conhecimentos enlivrados, emprateleirados, à descrição, arquivos intermináveis deles... tantas publicações,
tanta sorte a dos bichinhos do pó.
Tantas teorias, tantas teses formidáveis, tantos mestres, tantos gurus do (auto)Conhecimento, tanta esperança na revolução humana... tanta devastação perpretada em nome do desenvolvimento...
Tantas crianças que vêm ao mundo, tantas, tantas. Tantas necessidades elementares adiadas, esquecidas... e tantas desnecessidades formatadas, clonadas e amplificadas dos pais, professores, tv...
Tantas carências versus tanto lixo, excesso e desperdício.
O Homem quer tudo... e tanto de tudo...
Tanta imprudência.
Homo sapiens insapiens.
Futuro?
"Chassez le naturel, il revient augalop."
Para onde foi o meu comentário?
ResponderEliminarComo não o vejo, reitero o que disse, Agostinho:há muito tempo que não lia nada que dissesse tanto em tão poucas palavras.Molhei os dedos...
Que as alturas o protejam porque sem o conhecer, já o conheço, para afirmar que é uma pessoa excelente, com uma alma generosa e preenchida.
Um enorme abraço
Bolas, mesmo na mouche!
ResponderEliminarSomos tão pressionados a fazer compras no Natal que nos esquecemos do resto. Por estes dias nem quero olhar para os contentores.
Um abraço, amigo!
Não sei se devido à época que atravessamos, fiquei muito sensibilizado com os vossos comentários. Espero que continuem a frequentar este espaço, que é, acima de tudo, vosso, já que a vossa presença o enriquece bastante.
ResponderEliminarObrigado a todos.
Quantos becos "limpinhos" existem a merce do agonizante espirito natalicio....
ResponderEliminarTao poucas letras para uma tão grande verdade.
Eu sabia que já tinha tinha lido "isto", só não lembrava onde....
ResponderEliminarEncontrei a origem!
Beijos.