terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

SEMENTES

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O concílio dos deuses
Em olímpico desdém
Assistia de longe
Ao ruir da ideia
Caduca e sem tino
Do imolar da alma
Por trinta dinheiros
Em palácios de frio
E a multidão enjaulada
Sem a almofada
Da bengala-cifrão
Sentia a atracção
Fatal e desgraçada
Do grande buraco negro
Temperado na ilusão
(Economia do vazio).
A esperança rareava
Na multidão sem freio
Definhando nas trevas
Em medo animal
Sem qualquer anseio.
Mas aqui e ali
Acendia-se a luz
E uma ideia nova
Pulando o muro
Semeava a esperança
Passando a mensagem
Da reinvenção do futuro.
Foi lançada a semente
Em toque de gente
No sentir colectivo
E abraçada a certeza
Com cariz profundo
De olhar em volta
E sentir a magia
Da perfeita harmonia
Do pulsar do mundo.
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13 comentários:

  1. Agostinho, este poema é muito difícil e já me deu dores de cabeça.A metáfora foi levada ao expoente máximo.Será o poema uma alegoria política, mas com uma mensagem de esperança em relação ao futuro?
    Hei-de cá voltar!!!!

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  2. Ibel,
    Poderá ser uma alegoria política, mas não no sentido clássico. Tenho para mim que o mundo está a confrontar-se com a falência do sistema por que se tem vindo a reger, sentindo-se uma necessidade de mudança a todos os níveis: ambiental, cultural, social, económico...
    Há que promover uma nova ordem que contemple o equilíbrio com a Natureza (recurso a novas formas de energia) e, acima de tudo, que promova o Ser em detrimento do Ter. E mais não digo...

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  3. Que maravilha! Que inquietação justificada?
    É imperativo mudar o Paradigma de vida, singular e colectiva. O Mundo precisa e anseia por essa mudança.
    É necessário assumir a humildade de quem é uma pequena parte do Cosmos banindo o orgulho da verdade absoluta. De que eu é que sei?
    E que sei eu, perante o Universo daquilo que desconheço?
    A Assembleia dos deuses vão determinar que a bem: "de forma ordeira, respeitosa, hierarquizada, de cima para baixo, se respeite mais o Outro, a Natureza, o Ambiente e a Biodiversidade"; ou a mal "na guerra, na catástrofe, na dor, no sofrimento, primeiro dos inocentes mas chegando ao topo da pirâmide atingindo os poderosos".
    Parabéns e abração amigo.
    Caldeira

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  4. Que poema maravilhoso, Agostinho.Com a dica foi muito mais fácil lá chegar e com o comentário do Caldeira.Mas eu tinha razão quando disse que a metáfora tinha sido explorada de forma hermética.E o texto, em tom narrativo é bem alegórico.A mãe natureza é a nossa salvação e não pode ser delapidada por trinta dinheiros(economia do vazio).
    Este poema fez-me recordar um verso de Sophia que há muitos anos me pôs a pensar pesadamente, um verso que acho fantástico"Eis que se apagaram os antigos deuses/ Sol interior das coisas".Como o interpreta?

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  5. Caldeira,
    É isso mesmo, é necessário mudar de paradigma. Os sinais à nossa volta são mais que muitos, mas a multidão anda tão anestesiada e dependente da falsa segurança do "ter" que se recusa a ver o óbvio.
    Um abraço.

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  6. Ibel,
    "Eis que se apagam os antigos deuses/Sol interior das coisas".
    Concordo consigo, é realmente magnífico como a Sofia diz tanto com tão pouco. Sem grandes pretensões de análise, parece-me que a Sofia se refere à importância da nossa interioridade, relegada para segundo ou terceiro plano com o advento das grandes teorias materialistas (o apagar dos antigos deuses). No fundo, parece-me que, ao escrever isto, a Sofia constata o triunfo do Ter sobre o Ser do nosso actual modelo de sociedade que, como todos verificamos, está a dar sinais de entrar em colapso.

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  7. Muito bem, Agostinho. O verso é retirado do poema "Crepúsculo dos deuses", para o caso de o querer ler.Realmente os deuses simbolizam os valores, a perfeição, a beleza interior do ser humano, daí que eu considere divina a metáfora que os caracteriza como "sol interior das coisas".

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  8. Amigo, li o teu poema e não o percebi. Valeram-me os outros comentários. Depois disso digo-te o seguinte: olho em volta e não gosto do que vejo. Falta alma às coisas. As pessoas vestem roupa de marca ou compram um carro novo, mas é apenas mais um brinquedo novo. Não faz sentido. Eu gosto das coisas simples, mas sei descer ao fundo da minha alma. E gosto de ser assim.
    Um abraço

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  9. Jorge,
    As tuas palavras são simples, mas tocantes. Consegues ver para lá da névoa.
    Um abraço também para ti.

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  10. É sempre com algum constrangimento que comento uma obra que está para além da minha pequenez.
    Escreve lindamente. Aqui fica uma palavra de agradecimento. Pela grandeza que é capaz de ver a pequenez...

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  11. Das sementes nascerão sempre frutos mais ou menos saborosos, mais ou menos apetecidos, mais ou menos "contaminados". Impossível separar as sementes e adivinhar o interior ou o desenlace de cada uma. Mas, é possível escolher os seus frutos! É nessa capacidade de os escolher de forma convicta, sentida e transparente que reside a possibilidade de uma mudança individual e colectiva …
    Por mais incertezas (semeadas por quem (se)mente) … desistir de semear é enterrar a esperança no “grande buraco negro” e esperar iludidamente por um futuro que renasça da terra ou caia do céu...
    Quase apetece dizer... "Semente a semente, há que semear o SER em toda a gente". :)

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  12. E.A.,
    Fala em pequenez, mas ela é comum a todos nós. Aliás, deixe que lhe diga, quanto mais sei das coisas - do seu funcionamento, do que nos motiva, do que nos transcende - mais pequeno me sinto. Para lá da névoa que tolhe os nossos dias, há um caminho tão longo a percorrer...!

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  13. JB,
    Os frutos só valerão a pena se utilizarmos as sementes certas. É certo que não se pode "adivinhar o interior ou o desenlace de cada uma", mas todo o percurso começa na raiz, toda a utopia tem a sua génese... Uma coisa parece clara, chegados a este ponto já não há muita margem de manobra. Ou ousamos, ou então...

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