domingo, 4 de abril de 2010

PRIMAVERA

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Publiquei este poema, vá lá saber-se porquê, em Dezembro. Talvez fossem as saudades do sol. Mas hoje é Páscoa, o sol irrompeu logo pela manhã, e a disposição ressentiu-se. Para melhor. Como, apesar de tudo, continuo a acreditar no futuro, aqui fica de novo o poema. Porque todos precisamos de primaveras na nossa vida.
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Éramos jovens potros
Imunes ao receio
E a primavera de Vivaldi
Em harmonia vibrante
Era o primoroso retrato
Do nosso entusiasmo
No galopar sem freio.
A seara ondulava, sensual
E viajávamos no sonho
Embalados no rumor da aragem
Que escrevia
Nas folhas dos freixos
Sinfonias à nossa passagem.
A paixão das cigarras
Morava dentro de nós
E a linha do horizonte
Meta por conquistar
Era a tela
Dos planos traçados
Dum mundo por desbravar.
Adormecia nos teus braços
Em nocturno de Chopin
Terna e doce vassalagem
E só o romper da aurora
Rebate do mundo lá fora
Quebrava o feitiço da viagem.
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13 comentários:

  1. Para o Tito:

    “As minhas raízes são de uma terra plana em que o olhar se estende até ao infinito...
    Mas as ramificações da vida trouxeram-me às serras da Beira e aqui também pude encontrar terrenos férteis.”


    Já em Janeiro a minha mãe o escrevia… Talvez em busca da luz que lhe iluminasse o caminho, talvez saudade do calor acariciando o seu rosto…

    Até que enfim que essa luz chegou!

    Traz calor e jovialidade, afecto e aconchego, sorrisos e flores… Agora sim os “terrenos férteis” podem rejuvenescer com o fulgor do sol!

    PS: E que belo presente foi este! Parece que a Mãe-natureza escolheu o dia… Parabéns!

    Ana Carolina

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  2. Olá, Ana! Estou muito contente com a tua visita. Ainda por cima com um belíssimo envolvimento. Obrigado!

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  3. Creio que a estação nos encontrou a todos. Campos vestidos de flores, luz morna e aconchego da alma: a minha Primavera. O poema é verdadeiramente belo. Como todos os que tenho lido, aliás.

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  4. E uma palavra de agradecimento... Pelas palavras gentis que, para mim, tanto significaram.

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  5. Já tinha dito que não é fácil, em palavras, dizer o que se sente ao ler a PRIMAVERA. Mas hoje ela esteve mesmo presente... Entrou-me em casa, aliás tirou-me de casa e lá fora, uma dessas primaveras de que todos precisamos na vida, fez-me companhia. Procurando recebê-la eterna e calorosamente, eis que a ouço sussurrar-me…

    Ontem sentiste-me raiz
    Num terreno acidentado
    Nutrido mas movediço
    Embebido na nascente
    De uma imaculada
    E adivinhada existência.
    Hoje sentes-me pétala
    De uma flor desconhecida,
    Que importa?!
    Se na essência enternecida
    Do meu criador
    Essa flor sempre existiu.
    Amanhã…
    Sentir-me-ás fruto,
    Flor na paixão
    De jovens abraços
    Sem receio da sedução
    Em plena dança primaveril.
    Na raiz viçosa da pétala
    Sob a áurea da mãe-estrela do azul
    Olho nos teus olhos
    O interior do meu botão
    E gosto de sentir
    Que o semeaste no coração.

    Espero poder reler o teu poema "PRIMAVERA", de novo, no Verão! :)

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  6. Ora vivam lá todos. A Páscoa já passou! Já passou? A Páscoa nunca passa mas vai passando, por que Páscoa é "Passagem" e o passamento vai acontecendo.
    Isto está a ficar bonito!Um blogue que, "à priori" nos pareceu sem pretensões está a tornar-se numa tertúlia intelectual da mais pura e sofisticada argumentação literária. O Agostinho é um portento de sabedoria e sageza. Os comentadores duma perspicácia analítica do mais alto gabarito. A continuar assim, não sei onde isto vai parar, mas acredito que a bom porto.
    Fico por aqui. Abraço a todos. E o desejo de uma Páscoa da Ressureição permanente e constante.
    Caldeira

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  7. E.A.,
    Ainda bem que "o aconchego da alma" está presente.
    Não agradeça as palavras, elas são mais que justas para quem escreve com tamanha sensibilidade.

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  8. JB,
    Fico feliz por gostares de frequentar este espaço. Ele é feito com o contributo de todos, e o teu é deveras significativo. Obrigado.

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  9. Caldeira,
    O meu ego agradece, mas este espaço, se tem algum significado, muito o deve aos seus frequentadores. E a pertinência das tuas intervenções só o enriquece.
    Um forte abraço.

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  10. Que bem que sabe com este sol ir por aí fora.
    Os pulmões enchem-se de aromas, tudo parece em paz e sente-se uma enorme vontade de viver.
    Amigo, também eu galopei sem freio a ler o teu poema, que é belíssimo.
    Abraço

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  11. Jorge,
    Galopa mas, se me permites, utiliza o freio. Nunca se sabe... :)
    Um abraço

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  12. Reli hoje o poema aqui e o comentário que eu havia feito mais para lá.
    Hoje leio-o com outro sentir.Primavera talvez.O poema é um cãntico à vida, aos sonhos, ao amor.
    O poema é verdadeiramente primaveril e convida ao sorriso e à fuga para os campos e para um regresso ao passado.Muito Bom!!!!

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  13. Em tempos escrevi um poema a que chamei "Sentir a Primavera", e começava assim:

    "... No seu amanhecer costumava inventar o Sol quando chovia,
    E o chamar das gaivotas
    anunciando os recados do Mar largados nas grutas,
    O cantar dos pássaros em primaveras longínquas,
    Ousava querer sentir cada instante da vida..."

    Falava de mim, de como faço questão de que todos os dias do ano amanheçam Primavera!

    Neste teu poema vejo-me literalmente ao espelho. Fala tudo em que eu acredito. É de uma beleza extrema!

    A juventude (sobretudo da mente)
    Vivaldi
    Chopin
    As searas
    Os sonhos
    O desbravar da vida
    A noite
    O romper da aurora
    O AMOR!!!

    Amei!!!

    Obrigada AC!
    Obrigada JB!

    Beijos!

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