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A manhã, ainda a contas com um arremedo de geada, descobriu-nos a subir uma das muitas encostas da Estrela. Éramos três, sem qualquer familiaridade com a trindade, o que nos movia não era o verbo. Bastava-nos, ínfimos que somos, a partilha da terra, das árvores, do ar que se respira por ali.
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Fotografia de AC
.A manhã, ainda a contas com um arremedo de geada, descobriu-nos a subir uma das muitas encostas da Estrela. Éramos três, sem qualquer familiaridade com a trindade, o que nos movia não era o verbo. Bastava-nos, ínfimos que somos, a partilha da terra, das árvores, do ar que se respira por ali.
O pretexto, desta vez, para palmilhar parte da serra, eram os cogumelos silvestres, a que, por aqui, apelidamos de míscaros, e nada melhor que procurá-los nos pinhais, seu natural poiso.
O terreno, íngreme, parece arquitectado para desencorajar os menos avisados, mas nada que perturbe a coesão do grupo. A manhã é para se fruir, sem pressões, estamos ali para sentir, ainda que por momentos, a harmonia do local.
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Fotografia de AC
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Os cogumelos, experimentadíssimos no jogo das escondidas, vão retardando o natural desenlace, dando mais cor ao sentido da procura. E quando, de caras com o descobridor, ultrapassam o instante da surpresa, é impossível não se associarem ao júbilo da descoberta, gravado em efémeras exclamações.
A cesta, pacata testemunha dum jogo milenar, acolhe-os, propiciando diálogos alheios a bípedes criaturas. E a manhã, sorridente, vai dando guarida a leves e naturais anseios, quase de criança, como se, por momentos, o tempo dos homens se tivesse aquietado.
Um copo de Reguengos, a meio do desenlace, mais acentua a apaziguante sensação. E, como se não fosse pouco, à saída do santuário, ainda que de forma esquiva, a aparição dum casal de perdizes ajuda a apaziguar a alma.
. Um copo de Reguengos, a meio do desenlace, mais acentua a apaziguante sensação. E, como se não fosse pouco, à saída do santuário, ainda que de forma esquiva, a aparição dum casal de perdizes ajuda a apaziguar a alma.
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Que lindo conto, linda colheita e passando paz do local! Valeu! abraços,chica
ResponderEliminarViajei nas palavras… :-)
ResponderEliminarBeijo, AC!
Que bela manhã em contacto com a natureza em busca de cogumelos, ou míscaros como se diz por aí, ou púcaras no meu Alentejo. Dá gosto vê-los na cesta!
ResponderEliminarApanhei muitos quando era criança; vivi perto de um pinhal.
Belo texto e fotos, AC.
xx
Que belissima manhã.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Que o silêncio seja absoluto para conseguirmos absorver os prazeres da caminhada e surpreender os míscaros disfarçados!
ResponderEliminarQuando era menina, às vezes ia com meu avô quando ele ia apanhar míscaros. Mas ele não me deixava mexer nos cogumelos, eu gostaria de apanhar tudo o que tinha a forma de cogumelo e ele diz que eu tinha olho só para os venenosos. Assim corria para apanhar algum pardal que poisava à minha frente e que logo levantava voo por perceber as minhas intenções, ou ficava parada vendo as rãs no charco.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Contemplar e absorver as delicadezas da vida!
ResponderEliminarMomentos de comunhão com a natureza e com a criança que guardamos no coração!
Encantador!
Tenha uma semana muito feliz!
Manhãs como esta são um bálsamo para a alma:)))
ResponderEliminarObrigado pela partilha, não estive presente, mas quase senti a brisa matinal no rosto e o cheiro a terra molhada...
Deixo um beijo com estima e amizade.
Tenha uma linda semana caríssimo poeta :)
ResponderEliminarOlá,AC!
ResponderEliminarPerfeita combinação, que juntou o útil ao agradável, numa manhã que começou fria.Que depois dum belo passeio e convívio com a natureza, resultou num cesto bem cheio. Desse fruto esquivo e tão precioso - que alguns tratam por míscaro.
Bonito relato, a fazer sentir-me parte desse passeio.
Um abraço e boa semana.
Vitor
Uma descrição que nos leva a passearmos juntos com bela paisagem que nos transmite muita paz.
ResponderEliminarEspero que os cogumelos tenham sido saborosos.
Beijos meu amigo e até!!
Míscaros?? Agora lembrei-me quando em criança ía aos cogumelos com o meu pai e dos meus gritos de felicidade quando encontrava um. O sorriso dele no canto do olho, era delicioso. Bjs AC
ResponderEliminarUm texto repleto de doçura, que nos eleva com tanta ternura e nos faz sonhar ...tua sensibilidade e capacidade de amar está bem patente nas tuas palavras e emoções...ao partilhares conosco a tua arte como nos fazes sonhar e desejar...adorei...um feliz natal para ti!... BeijooO
ResponderEliminarTambém eu subi a encosta e senti a natureza nestas palavras.
ResponderEliminarBeijinhos
Apaziguamento foi tudo o que esta "caminhada" proporcionou. Elevação da alma, escalando o deslumbramento deste paraíso terreno, "pretextualizado" pela apanha de cogumelos. Também lhes chamamos míscaros..
ResponderEliminarTambém já não dispenso os teus textos, AC!
BJO :)
Oi, A.C. e você ainda não acredita que ali estivesse a Santíssima Trindade?
ResponderEliminarum abraço
Soprar as náuseas
ResponderEliminaré preciso
Belissimo e profundo!
ResponderEliminarA natureza é mesmo capaz de propor sagrados momentos.
Beijos.
Já experimentei essa magnifica sensação , na mesma serra na procura , também , de deliciosos míscaros e do prazer do vento no rosto .
ResponderEliminarNo fim do dia, o arroz feito com os mesmos , um pretexto para a reunião continuar .
Tempos bons , saudáveis . . . com a felicidade também presente , e nós não sabíamos .
Agradeço , e muito este partilhar .
Um beijo , AC ,
Maria
cogumelos, perdizes e Reguengos - o Paraíso existe!...
ResponderEliminarabraço
Que bela manhã, AC. Palmilhar a serra também é (ou era) um dos meus desportos preferidos. O cansaço no final da manhã ajudar a que no almoço o apetite seja diferente, diferente para melhor. Cogumelos, pelo vi e ouvi num areportagem qualquer têm de apanhados por pessoas que saibam muito bem o que fazem. Eu teria receio, confesso.
ResponderEliminarAdorei as duas fotografias. Sabem a vida. São genuínas.
Tenha uma boa noite, AC :)
Maria,
EliminarSei identificar os cogumelos desde tenra idade e, à menor dúvida, o suspeito não entra na cesta. :) Aliás, os que apanhei no domingo já foram, devidamente cozinhados, motivo de convívio entre pessoas próximas.
Obrigado pelas palavras com sabor a amizade.
Tão bom! Tudo: forma e conteúdo!
ResponderEliminarTão preciso é esse acto de «soprar as náuseas»! Lendo-te, soprei uma parte delas...
bjs
"Soprar as náuseas"...! Nada melhor do que um bom caminhar silencioso, o sentir a terra com suas vozes, seus frutos, seus cheiros e seus mistérios. Aquela sensação de fazer parte dela. dissipa qualquer mal-estar, não é?
ResponderEliminarTenho a impressão que fazes parte de um seleto grupo de privilegiados no quesito Natureza, e fico muito feliz com isso. Sentí vontade de pegar essa cesta de cogumelos, tão linda!
Para além dos jardins existe uma densa floresta cheia de vida(ainda)inexplorada, que o poeta sempre tentará conhece-la, para sua própria sobrevivência!
Um beijo :)
Nada melhor do que essa comunhão com a mãe natureza para apaziguar a alma.
ResponderEliminarbjs
Adorei!
ResponderEliminarA minha Estrela...
Os mesmos encantos!
Abraço do Paulo
a natureza e a amizade em sintonia.
ResponderEliminare a colheita foi boa pelo que a foto nos dá a ver.
boa semana
beijinho amigo
:)