sábado, 7 de fevereiro de 2015

ETERNAS PARTIDAS, PROFUNDAS MÁGOAS

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Fotografia de AC
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O ninho, rodeado de áridos fraguedos, onde sorria a urze e a giesta, era aspergido no convívio dos deuses naturais com o temor ao supremo. Do filtro da amálgama, forjada no mais profundo da montanha, resultou o compromisso, a honra, a dignidade. Mas o pão, condição fulcral, ia para lá do fermentar das pedras. Havia que procurá-lo longe, quase sem bússola, à mercê do que o diabo amassou.
Deixou para trás as despedidas, as teias de aranha da escola e dos correios, a fábrica de queijos sem vivalma, o largo onde se juntavam os velhos para o último sol. Doía.
No terminal de autocarros, ladeado pelas malas, guardava as mágoas enquanto aguardava as horas. Da pequena TV, quase sem som, emergiu a cara séria dum político, em pose estudada, a louvar os novos caminhos. Ouvia-se mal, mas quase jurava que o ouvira dizer que estávamos a dar uma lição ao mundo. Filho da puta!
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32 comentários:

  1. Nem me fala! Essas caras de e dos políticos enojam mesmo! mentem descaradamente, achando que o povo é idiota e isso em todos os lugares! FDP mesmo! abraços,chica

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  2. Infelizmente essa é cada vez mais a realidade. Procurar o pão, longe.
    Gostei do texto e da foto.
    Bom domingo, AC:)

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  3. Retrato, exacto
    desta época
    pintado
    a sépia

    partimos todos
    mesmo que alguns fiquem

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  4. Sem tirar nem pôr! Infelizmente tornou-se o nosso dia-a-dia...

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  5. Assim é cada vez mais a realidade em que vivemos...

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  6. Esse nome nada diz ao individuo que proferiu a frase na tv . Assim como a tristeza que se espalha cada vez mais neste país .
    Nada faz eco no peito destes senhores , para lá dos seus interesses .

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  7. UM retrato contundente de uma realidade que há séculos o povo assiste calado...as dores da saudade dos que vão e dos que ficam no desalento das economias fracassadas do pobres enquanto o políticos bem qualificados pela sua fala distribuem ilusões e sorrateiramente "eles papam tudo e não deixam nada"
    Um abraço

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  8. Uma triste realidade, de que Eça de Queirós já falava....ter de se chegar ao ponto de fugir do país é demais. O direito à vida, à propriedade e à liberdade, nunca deveria abandonar o ser humano, nem nos ser retirado por nenhum filho da ****
    Quanto ao texto, que dizer, quando a mensagem nos chega na excelência da escrita....
    Muito, muito bom, como é hábito neste lugar....
    Abraço e boa semana...

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  9. Ah....a fotografia excelente, e bem ilustrativa da mensagem do texto.

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  10. É melhor olhar a Natureza do que ver e ouvir quem tem a verdade toda nas palavras que diz sem perceber quanta ignorância...
    Um beijo.

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  11. Olá, AC!

    São dois mundos que não se tocam:O deles, e o outro de que eles falam sem pudor, como se o conhecessem. E se os palavrões existem por uma boa razão, esta é uma dessa vezes...

    Bom texto!
    Um abraço
    Vitor

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  12. Por aqui o cenário é o parecido, tenho a impressão que moral e bons costumes são coisas do passado!
    É de dar dó!
    Dissestes tudo!
    Tenha uma feliz semana!

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  13. Aos invés de ouvir e ver tanta barbárie afora, fico com a imagem que traz paz e harmonia..
    Beijo..

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  14. Um retrato perfeito de dois mundos que se ignoram...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  15. Não podia estar mais de acordo com o final deste seu intenso e real texto.
    Um foto muito bela com um imenso céu ao fundo, haja ao menos isso !

    beijinho e boa semana

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  16. Os políticos, de um modo geral, se apoderam do que é nosso e depois tentam empurrar seus discursos em nossas goelas com o objetivo de se perpetuarem no poder. São como ervas daninhas: estão espalhadas pelo mundo inteiro!

    Um beijo :)

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  17. Pungente a forma como descreves uma situação que bem conheço...e lamento.

    Beijo

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  18. Retratos de solidão, são os que se pintam em algumas dessas paisagens...

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  19. Ai, que este texto deixou-me um bocadinho arrepiada! senti-o tão meu! mas muito bem retratado ao teu estilo...
    Bjs

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  20. Infelizmente é o que acontece e dá raiva.
    A partida dói.
    Sai a gente nova, o país chora e ficam espoliadas as famílias num vazio sem palavras.
    A foto liga muito bem com o texto pois fica a linha do horizonte bem definida. O que fica para lá dela?
    Beijinho.

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  21. Parece fazer parte do destino português, abandonar o ninho e partir para outras paragens. Com malas carregadas de mágoas, desalento e muita coragem, algo que esses políticos que nos aparecem na televisão, não sabem o que é.
    Muito bem escrito, AC!
    xx

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  22. tanta mágoa nessas partidas forçadas...

    tantas lágrimas escondidas, tantas, tantas!

    :(

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  23. Ah, quase tombava da cadeira ao ler o "filho da puta" do amigo poeta. Uma nota dissonante da sua delicadeza habitual, mas com mais significado por isso mesmo. O meu filho também fica chocadíssimo quando digo um palavrão, porque sabe que é preciso eu estar muito alterada para isso acontecer. Suponho que é isso que sente. E apetece, cada vez mais, lavar a alma com uns @?Y#&!p=«....
    Abraço, amigo AC
    Uma boa semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  24. A eterna procura de um mundo melhor, do que este de miséria que nos oferecem há centenas de anos.
    Um abraço

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  25. "Ei-los que partem..." - "piegas" que somos!...

    forte abraço.

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  26. É empolgante ler textos com palavras tão bem colocadas. Muita paz!

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  27. Tenho muito receio desses filhos que dizem ser filho das senhoras profissionais da noite. Mas... vai que as mães deles são senhoras dignas, senhoras que trabalharam na tal fábrica de queijos agora sem vivalma? Vai que as senhoras agora se sentam no largo onde se juntavam todos os velhos para o último sol. Doí pensar nisso.

    Perdoe-me, AC ,por ter tido o atrevimento de brincar um pouco com as suas palavras. O seu texto, como sempre, é certeiro e deve ser lido em modo sério, longe de brincadeiras. Eu li. Nem teria como não ler.

    Tenha uma boa noite :)

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  28. Acabou de entrar um lindo céu teu por lá! Obrigadão! abraços, chica

    http://ceuepalavras.blogspot.com.br/2015/02/ceus-de-portugal.html

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  29. Muito bom literariamente, AC - muito bem aplicado aqui este "Filho da puta" - nem Torga assim escrevia (lembrei-me dele porque ontem assisti a um documentário sobre ela na Biblioteca Municipal).
    Quanto à temática: toca-me em toda a linha (não é por acaso que estou a escrever para participar numa Antologia sob o título "Ei-los que partem" ; sou de um interior transmontano esquecido em que as partidas são o pão nosso de cada dia. Como escrevo num poema "Por aqui haverá sempre um cabo em tormento"...
    Bjo, AC

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  30. Este foi bem zurzido. E mereceu!
    Beijinho, AC:

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