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Fotografia de AC
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A vida, em eterno jogo de escondidas, teima em acenar-nos, como que a lembrar que há sempre mais para lá daquilo que vemos, daquilo que conhecemos, daquilo que somos.
Por vezes, aquando duma qualquer perda, não pareces convencida. E, sem te dares conta, alisas o terreno para a comoção se instalar. Eu sei, tu sabes: nada floresce, a não ser a sombra, com tal húmus.
Ontem, enquanto folheavas um livro, saí e sentei-me no alpendre. Estava frio, apesar do sol se esforçar por estender os seus braços, e ajeitei melhor a gola do casaco. Os gatos, por perto, indiferentes ao meu desagrado, teimavam em considerar como seus os terrenos recentemente plantados com ervilhas, favas e alhos, deixando rastos na terra mole. Levantei-me, esbracejando, qual proprietário de coisa nenhuma, e eles condescenderam em fazer o óbvio: levantaram-se, indolentemente, deslocando-se como reis e senhores do espaço, relativizando a importância do que quer que fosse. Acabei por sorrir.
O sol, entretanto, despedia-se num breve aceno, como que a relembrar evidências. Agradeci, mentalmente, e enchi o cesto da lenha para reforço da lareira. Faltava, apenas, escolher a música certa.
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E a companheira largar o livro. Rsrsrs.
ResponderEliminarA sério os seus textos são sempre muito belos, cheios de poesia, fazem sonhar. Gosto muito.
Um abraço e bom fim de semana
Este seu texto é muito tranquilo, AC. Passa energia da boa para este lado. Isso da energia boa existe realmente, desengane-se quem acha que é coisa de loucos, ou então, vai na volta, a loucura também me assiste, o que, diga-se de passagem não é coisa que me tire o sono.
ResponderEliminarBeijinho, AC :)
Coisas grandes que, tantas vezes nem vimos, feitas de pequenas coisas nos enfeitam a vida e nos fazem sorrir. Bem bonita a sua tarde.
ResponderEliminarBoa e quentinha noite AC
Um texto maravilhoso, que nos faz sentir protagonistas da história...
ResponderEliminarOs animais têm razão, o ser humano gosta de dar importância a coisas que nada significam, perante o milagre de cada dia das nossas vidas.
Há que aproveitar os bons momentos e relativizar pequenos nadas, que nos fazem sair do nosso estado de paz.
Um abraço AC...e bom fim de semana
A fotografia é linda!
ResponderEliminarGostei muito desta reflexão. Nem sempre conseguimos ver o que a vida tem exposto mesmo de fronte dos nossos olhos.
Gosto muito de gatos, tenho um que é o menino dos meus olhos. Mas não me importava de ser um dos felinos atrevidos que pisaram a terra do seu lar. Eles veem muito para além do que é visível a olho nu, se bem que a ver a vida do seu alpendre deve ser qualquer coisa para lá de admirável.
Posso saber que música embalou o cair da noite?
Fica um beijo com estima é amizade.
Não foi a única, mas esta fez-se ouvir.
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=bG_aOkt_jHQ&feature=youtu.be
Gosto muito destes sons do quotidiano que nos trazem imagens com as quais nos identificamos logo ao primeiro olhar.
ResponderEliminarBj.
Lídia
Fez-me lembrar de coisas da infância: gatos (que não eram nossos, mas de vizinhos) vinham desenterrar o que plantávamos em nosso jardim...
ResponderEliminarEste aceno foi exuberante e tão cálido como a lenha que já tenho a arder.
ResponderEliminarBeijinho.
Desfrutando a vida e o que ela tem de melhor.
ResponderEliminarBelo texto.
E respondendo à sua deixa, vamos ver se haverá alguma coisa por aqui a fermentar :)
Beijinho
Encandeada pela luz incandescente desse sol que demorava a enconder-se na linha do horizonte, pousei o olhar nas tuas palavras. Nelas encontrei o descanso e a tranquilidade que me inundaram a alma de paz.
ResponderEliminarUm beijo, A.C. :)
Um perfeito cenário de Inverno. Estava lá tudo. Não falta nada, nem mesmos os gatos, essas ternurinhas atrevidas e brincalhonas.Gosto de dias de inverno e gostei muito deste conto onde me identifiquei por momentos.
ResponderEliminarUma cena admirável da qual adoraria fazer parte , não importa como ... talvez um gato ou uma ervinha .
ResponderEliminarÉ o efeito que tudo que escreve tem em mim ... gostar de estar
E estar é das situações mais serenas que conheço .
A foto é óptima .
Um beijo , AC , e bom domingo ,
Maria
Excelente, o texto.Revejo-me nas palavras. Bom domingo de sol, apesar do frio..
ResponderEliminarTudo lindo por aqui AC, beijo!
ResponderEliminarUm belíssimo trecho perfeitamente de acordo com os dias frios por que estamos a passar ! Tão tranquilo e natural, que nos faz sentir bem dentro desse pequeno retalho da trama !
ResponderEliminarAbraço
A foto belíssima e rapta o nosso olhar neste encantamento...
ResponderEliminarO texto poético nos faz pousar o olhar nesta tua bela
descrição de pacto sábio com a vida. Agora, os gatos
trazendo nas pisadas a poesia essencial: "relativando
a importância do quer que fosse"!
Texto luminoso que fica na nossa alma ecoando
o essencial.
Um beijo e abraço grato pela leitura aqui, AC!
De facto só somos "proprietários de coisa nenhuma"...e esta tua foto encheu-me a alma!
ResponderEliminarBeijocas
Oi, A.C....momentos do cotidiano, ricos em essência de vida que nos chegam de graça e que fazem a graça de viver.
ResponderEliminarUm abraço
Eu artesão de metáforas
ResponderEliminarsempre aprecio a sua poesia
mesmo quando para a lareira
tenhamos que decepar umas árvores
Abraço de estima
Sei destes momentos mas não das palavras que se apropriam deles. Por isso reli. Quando colocar umas achas para o meu lume, lembrar-me-ei deste teu poema.
ResponderEliminarBj, AC :)
Tal como os gatos que se espreguiçam e rebolam ao sol num prazer imenso transmitiste-nos paz. Gosto disso. Boa noite AC
ResponderEliminarEntre o calor da lenha e as escolhas a fazer, eu fico com esta imagem belíssima que arde de inspiração!
ResponderEliminarUm beijo e feliz semana
Com essa descrição só falta mesmo uma boa música e um bom livro.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
sabes, falava há dias com um grande amigo desta coisa do estar só. De termos gente perto mas também a certeza inequívoca que há mundos por dentro de uma imensidão tremenda e incansável por outrem. Ao ler-te pensei que haja talvez algum conforto em ver essa mesma imensidão espelhada cá fora, neste mundo imenso e impossível de abarcar na sua totalidade e complexidade, mas que nos comove, na beleza desinteressada do sol a por-se e dos reis gatos num campo de ervilhas.
ResponderEliminarObrigada!
:)
Há sempre muito mais para além do que somos. Mas silenciamos a voz para que o deslumbramento de momentos como este se detenha no olhar... Quase que apetece escolher a música...
ResponderEliminarMagnífico texto! Excelente fotografia!
Uma boa semana.
Beijos.
Belíssima foto e a forma como nos transmites um momento de pequenas/grandes coisas que nos enchem a alma no dia a dia, é preciso muita sensibilidade e olha-las com olhos de ver.
ResponderEliminarAdorei! Recuei até aos meus 38 anos(altura em que fiquei viuvá e nunca mais cultivei) também eu fazia as minhas sementeiras e por fim olhava e adorava, sempre numa correria, antes e depois de abrir e fechar o escritório foram anos assim que amei, também o meu gato gostava de ir para a terra mexida, os pombos e os pássaros penicavam as ervilhas.
Beijinho AC uma boa semana.
P.S. desculpa a extensão.
Olá, Ac, que delícia de leitura! Me fez lembrar como a simplicidade da vida é bonita - o por do sol, o vento frio, as plantas, os gatos, uma boa leitura, uma boa música... trouxe-me tranquilidade e amor aos olhos só de ler.
ResponderEliminarAbraços!
entrei, li e gostei.
ResponderEliminarPor isso, se me permite, ficarei.
abraço
AC tão querido na minha saudade.
ResponderEliminarPoeta de todos os gestos, li e reli teu texto como quem sorve água matando sede. Sim! "A vida" acena do jeito que menos esperamos. Em alguns casos não podemos compreender mas ela se torna poema seja lá qual for a circunstância semeia. Beijinho
Na beleza dos dias...a tua visão poética. Lindo.
ResponderEliminarBeijinho
AC
ResponderEliminara foto ficou muito bem enquadrada ao excelente texto, que me fez sorrir quase imaginando a cena dos gatos.
cenas do quotidiano escritas com tanta ternura...
beijinhos
:)
Um alpendre, uma horta, um livro e uma lareira acesa aquecendo o entardecer que o frio gelou...pequenos nadas que dão serenidade às almas tantas vezes inquietas, almas que procuram respostas, explicações para o tanto de " acenos " que a vida nos dá. Mas, por mais que tentemos, ela não nos ouve e lá passa no seu curso normal
ResponderEliminardeixando as inquietações por nossa conta , esperando ela que a saibamos viver
sempre reconhecidos pelas pequeninas belezas que nos oferece a cada dia; há
momentos em que o sol não aparece , a chuva alaga a hortinha, o vento forte derruba
as árvores e nem o calor da lareira consegue aquecer-nos a alma; dias tristes, momentos dolorosos, algumas perdas que temos de aceitar...de sofrer...de chorar. Mas, tudo passa, tudo muda e nessa constante mudança que sabemos existir, viver um dia de cada vez sem grandes questões é a atitude mais sábia que podemos ter; é sábia a atitude, mas muito, muito dificil, amigo! Tentemos, pelo menos! Além de te dar os parabéns pelo belo texto que aqui nos deixas para reflexão, desejo-te bons momentos de serenidade e que a saúde seja a suficiente para os poderes apreciar. Um beijinho
Emilia
Um pedaço do encanto, de viver no campo... maravilhosamente descrito...
ResponderEliminarTexto maravilhoso, como já é habitual, AC! Parabéns!
Beijinho
Ana
Que cena bucólica, caro Agostinho.Escrito com tinta de alma.
ResponderEliminarConvido-o a antecipar a degustação de um néctar de excepção.Último post do Fatimawines.É uma colheita tardia!
Abraço
A vida é assim mesmo.
ResponderEliminarAinda que comece e acabe sempre da mesma maneira...
Excelente texto, gostei imenso.
Caro AC, continuação de boa semana.
Abraço.
No jogo da aparência e do desconhecido, com a aparência tantas vezes também desconhecida, poder-se-á conceder que o desconhecido, o que há por detrás do espelho, é incomensurávelmente mais importante do que nós, da nossa própria verdade, da nossa razão.
ResponderEliminar"Alisas o terreno para a comoção se instalar" é gesto vão. Sabe-se de empírica fonte da necessidade do pousio descansar a absorver a energia que o Sol lhe destina para que o fruto não seja estéril.
Como sempre, meu caro A, prosa com ponto e nó, para que as palavras não se percam na aridez e velocidade do nosso território.
Peço desculpa pelo imprecisão do tempo, de leitura e resposta.
Abraço.
No meu caso não são os gatos, mas umas desbravadoras ovelhas que me dão cabo dos rebentos verdinhos das minhas pequenas amendoeiras. E não consigo sorrir, porque estou demasiado longe para as afugentar.
ResponderEliminarIrra. Mas, como tão bem escreve, é uma ilusão pensarmos que somos donos de alguma coisa neste mundo.
Abraço ao dono da horta e à companhia imersa nas suas leituras
Ruthia d'O Berço do Mundo
Gatos, livros, lareira e vinho. E o clima frio, que eu adoro!
ResponderEliminarViajei aqui, obrigado AC!