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(Sandra Louçano: como tudo tem uma sequência, este vídeo foi colocado aqui para repor alguma justiça. Foi esta música que se ouviu, preferencialmente, no enquadramento do post anterior)
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As portas abrem-se, num eterno cerimonial, como se tudo acontecesse pela primeira vez.
Um olhar, dez, mil, numa multiplicidade em constante deslumbramento. Tudo cativa, tudo parece perto e longe, a vontade de desbravar conjuga-se, em paralelo, com a de albergar. As coisas parecem ali, à mão, qual visão meteórica, criando a ilusão de que o tempo é domável, que a vida pode esperar por nós.
Às tantas, após maratonas de inconscientes piruetas, regadas com risos de montanha russa, aceitamos a farda da normalidade, pregada por quem nos abraça, por quem nos quer bem. É preciso, incutem-nos, lutar pela zona de conforto.
Vestimos a farda, muitas vezes desconfortável, em conflito com a pele. Começamos, então, a questionar o que é a vida. Queremos agarrá-la, senti-la, descodificar-lhe o segredo, mas ela teima em esquivar-se, sorrindo e mofando, desafiando a persistência do mais abnegado.
Há quem desista, resignado, há quem opte por não olhar, satisfeito com aquilo que tem. Deles, suprema descriminação, é feito o reino dos céus, apregoam os pastores. Mas, para aqueles para quem o sentido das coisas é tudo, pecar, não aceitando, é eterno desígnio. Descobriram, à custa de muito pó na pele, que a liberdade e a dignidade, mesmo que, aqui e ali, sorriam, não são concessão, são apenas apeadeiro de conquista permanente, sem fim à vista. Os afectos, energia imprescindível, são o verdadeiro sustentáculo de tão grande fé.
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Ler este belíssimo texto do sentido da vida e dos afectos, ouvindo a Diana Krall, é a simbiose perfeita do desassossego com os afetos.
ResponderEliminarJean Paul Sartre dizia que (citação de memória) os judeus nos campos de concentração, depois de lhes tirarem tudo e nada mais tendo a perder, incluindo a própria vida, atingiam um estado de liberdade plena.Isto em 1942.
Penso que nada é certo e nada se pode dar por adquirido.
E se a Liberdade hoje não fôr defendida, amanhã será sunegada.
Nada nos é dado de mão-beijada nas conquistas civilizacionais. Tudo foi com sangue e lágrimas.
Gostei muito
Abraço
Tem toda a razão, Luís, "nada nos é dado de mão-beijada". E, do adquirido, nunca nada é garantido, a não ser que façamos por isso.
EliminarAbraço
Na verdade quase tudo se conquista contra a indiferença
ResponderEliminarNão por fé mas fortes convicções
Abraço amigo
Sabes, meu amigo, toda a convicção se baseia no crer, no acreditar. Ora, para mim, isso é fé. Em mim, nos outros, no que tu quiseres.
EliminarAbraço
Gostava de saber comentar este belo texto como ele merece, mas bem sabe que me sobra em ignorância, o que me falta em cultura.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Elvira, já li comentários seus a coisas muito mais complexas. Não seja tão modesta, a Elvira possui uma grande sabedoria de vida.
EliminarAbraço
Gostei do texto, AC... como sempre! Ah! Diana Krall... um prazer ouvir.
ResponderEliminar: )
Diana Krall, sim. Cumplicidades. :)
ResponderEliminarSim, a verdade absoluta se impõe: "liberdade e dignidade não são concessão e sim conquista permanente". Delícia voltar hoje a este espaço (e a todos os demais de amigos a quem sigo) e ler um texto como o seu, profundo, duro, mas sem perder a ternura... Depois de um ano muito difícil, de temores, angústia e perdas, este se prenuncia de paz e de calmaria. Perdoe a ausência. Feliz em voltar. Abraço.
ResponderEliminarAmar a vida com o deslumbramento de um recomeço, sempre... Mas não esquecer que tudo, mesmo tudo se conquista. E não ignorar os que nem seque podem ter esperança...
ResponderEliminarUm belo texto.
Uma boa semana.
Beijos.
"Vestimos a farda, muitas vezes desconfortável, em conflito com a pele."...muitas vezes...! Gostei muito de tudo.Abraços AC
ResponderEliminarÉ o que digo...andamos muito próximos, de tanto que me identifico com estes sentires tão bem bordados em papel!
ResponderEliminarBeijinhos
O eterno conflito entre viver, e ousar... ou apenas sobreviver e respirar... sem nada questionar... ou muito procurar... e deixando o tempo passar...
ResponderEliminarCada um com as suas escolhas... o que importa, é que a alma não esteja em conflito com a pele... para cada um se sentir pleno, e realizado, na sua própria pele...
Diana Krall! Sempre uma maravilha!... Adoro as suas interpretações!...
Beijinhos! Boa semana!
Ana
Ac, gostei tanto de me ler que terei que voltar para melhor me entender.
ResponderEliminarBeijinho.
As portas abrem-se e o público começa a afluir. Após soar a última das três pancadas de Molière, sobe o pano e a peça atrai os olhares de quem quer fazer da vida um eterno faz-de-conta. Só assim, muitos conseguem resistir aos embates da crua realidade…
ResponderEliminarMeu querido amigo, eu peco constantemente, porque me recuso a vestir personagens que não encaixam na minha pele!!
Excelente texto e reflexão sobre as vicissitudes da vida...a aceitação de uns, e a luta, por vezes inglória, de outros.
Como sempre: adorei! :)
Um beijinho, encantado, A.C. :)
Ahhh como gosto deste piano, que escolheu Diana para ser 'tocado'. Pois só posso compreender que é o instrumento que escolhe quais mãos e respiração irão sacralizá-lo.
ResponderEliminarAinda permaneço em plena viagem, por aqui. Com tão poucas linhas, tu AC, revela um portal de sentires, tendo a beleza sempre em magnitude.
Desejo um 2017 amplo de alegrias, saúde e amorosidade.
Beijinhos.
Excelente texto.
ResponderEliminarUm abraço
Maria
Um belo texto reflexivo e por demais filosófico sobre o sentido da vida...
ResponderEliminarA verdade, é que nada, mas mesmo nada nos pertence, tudo nos é emprestado...
Boa escolha musical...
Abraço
Tem razão AC, mas incomoda porque dá trabalho: a conquista, o arar, o semear...
ResponderEliminarNa anterior crónica O Pousio, agora, respirar. Em ensaio! Onde nós leva AC? Só temos de aguardar pela próxima.
Energia. É fundamental dispendê-la para trabalhar a matéria. De que se fez e faz tudo no mundo. Até o homem e a mulher de um sopro (afago) animados.
Bastou, basta ter fé.
É na alternância de estados que se produz o milagre. Veja-se, a DK numa alternância de pretas e brancas. E é loira (a cor do trigo maduro(a))? Interessa o relevo? Sim, interessa, a inclinação ao sol, mas também o enlevo, a dedicação, o amor com que se molda o barro ou o aço. Rígido - dúctil. Até o respirar: inspiração - expiração.
Escrito em respiração espontânea, ou seja, sem rede, smartphoneamente precário.
Abraço, A(a)migo.
Poeta , seu texto é fascinante .
ResponderEliminarObrigada pela partilha .
Beijos
Vamos ver qual o caminho que vamos percorrer.
ResponderEliminarAo som de Diana Krall será sempre agradável.
Como sempre, AC um magnífico texto... aguardemos...
ResponderEliminarBjs
AC
ResponderEliminarum texto curto e intenso, porque nos fala do sentido da vida e nos deixa questões muito pertinentes,a vida está aí para a sabermos viver.
gostei muito desta passagem, que fecha com chave de ouro.
"Os afectos, energia imprescindível, são o verdadeiro sustentáculo de tão grande fé."
gostei muito mesmo.
beijinhos
:)
Continuo a respirar pelas tuas "Interioridades"!
ResponderEliminarE saio sempre renovada.
Bjo, AC
Os afectos, energia imprescindível, são o verdadeiro sustentáculo de tão grande fé.
ResponderEliminaro que acrescentaria... seja ela qual for!
Gosto de algumas música da Diana, mas esta AC dá-me um sono do caraças o que te peço desculpa e neste texto eu punha outra...ó se punha:)))
Um enorme abraço
Belíssimo este ensaio de respirar (vida).
ResponderEliminarTudo começa com esta consciência da respiração,
autoconhecimento e escuta para que a energia
afetuosa ecoa a verdade deste caminhar-respirar-viver...
O vídeo-música encantador.
Um final de semana alto astral, AC!
Beijo.