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AC, Cerejais no Vale do Alcambar, Gardunha
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Dantes havia soutos, prevalecendo a frugalidade da castanha, enquanto se consolidava o estatuto cimeiro da madeira do castanheiro, rija e durável como poucas, transversal a muitas gerações. Agora, no advento da cerejeira, as encostas de parte da Gardunha, em socalcos, ficaram mais suaves, trazendo outra cor e sabor a quem respira aqueles ares.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como cantava o poeta de um olho só, em busca de avença. As gentes locais, agora, já não se arrogam da cepa do castanheiro, apenas os possuidores de memórias de antanho teimam em lutar pela divisa. A hora é da cereja, saborosa e inspiradora, com boa cotação nos consumidores.
Com quantas varas se consolida a palavra "mercado"?
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Adenda, após vários comentários: Gosto da paisagem, aprecio o esforço daqueles que se empenham em plantar, mesmo que subtraindo, cada vez mais, ao espaço natural da serra; rejuvenesço nas cores dos cerejais nas diferentes estações: no branco floral na Primavera, logo seguido dum verde novo; no rubi dos frutos, com um sabor inigualável, pintalgando o bolo tecido em verde maduro; o multifacetado das cores outonais, em que as folhas se desafiam na procura de novas tonalidades... Não podia, contudo - e fica a dívida paga - de deixar de recordar as gerações de pessoas que conviveram com outra realidade, em que o castanheiro era primordial. É que nunca seremos nada sem as nossas memórias.
Tudo muda, é certo, e muito bom será se as coisas mudarem para melhor. Comer, à tardinha, umas cerejas colhidas da árvore continua a ser, e de que maneira, uma experiência única.
Uma Feliz Páscoa para todos!
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Adenda, após vários comentários: Gosto da paisagem, aprecio o esforço daqueles que se empenham em plantar, mesmo que subtraindo, cada vez mais, ao espaço natural da serra; rejuvenesço nas cores dos cerejais nas diferentes estações: no branco floral na Primavera, logo seguido dum verde novo; no rubi dos frutos, com um sabor inigualável, pintalgando o bolo tecido em verde maduro; o multifacetado das cores outonais, em que as folhas se desafiam na procura de novas tonalidades... Não podia, contudo - e fica a dívida paga - de deixar de recordar as gerações de pessoas que conviveram com outra realidade, em que o castanheiro era primordial. É que nunca seremos nada sem as nossas memórias.
Tudo muda, é certo, e muito bom será se as coisas mudarem para melhor. Comer, à tardinha, umas cerejas colhidas da árvore continua a ser, e de que maneira, uma experiência única.
Uma Feliz Páscoa para todos!
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Mudanças, mesmo em terra de muitas tradições, não é?!
ResponderEliminarConfesso, meu amigo, que tive de recorrer ao Dicionário para poder fruir do seu texto... Nossa língua é a mesma. Mas... será mesmo? como é rica, com sua diversidade de termos e de significados. Grata pela aprendizagem. Abraços.
ResponderEliminarEssa paisagem é absolutamente deslumbrante!!
ResponderEliminarVotos de uma Santa Páscoa
Poeta , fico sempre encantada do uso que faz das palavras para nos oferecer tanta beleza . Quando o pano de fundo é foto magnífica que consegue captar , é mais um presente . Agradeço . Também , suas generosas visitas ao meu espaço . Beijos e uma Páscoa abençoada junto dos seus .
ResponderEliminarEnchi o peito de ar verde e cheiros de lá longe no tempo, ou pelo menos, j+a não tão perto - Verde, verde e verde e até meus olhos castanhos mudam de cor.
ResponderEliminarComo diz, mudam-se os tempos e o mercados :-)
Mudam-se os usos e os costumes, mas permanece a beleza incrível das paisagens. Belíssima imagem!
ResponderEliminarPassando para te cumprimentar, apreciar esta bela paisagem e desejar uma feliz Páscoa para ti e para os teus.
ResponderEliminarFurtado
Pois os de "antanho" teimam em dizer NÃO aos "eles comem tudo e não deixam nada" mas actualmente teria de ir ver as varas do flamejado PAC desta (des)União Europeia por os sucessivos governos preferiram investir na desertificação e pousio total dos campos. Onde havia tomates hoje só há silvas e os Silvas dos mercados é que ditam as regras.
ResponderEliminarMas a coisa está a mudar e não é por acaso que ocorrem tantos incêndios...e acho que os portugueses já começaram a abrir a pestana a lutarem por terem lugar no mercado feito de mil varas.
Estarei errada? Mas foi o que senti com as tuas palavras - tristes e com uma elevada dose de razão.
Beijocas
Eu cá, na minha modesta opinião, sou adepta e deveras apreciadora da cereja enquanto fruto, para além de me render ao encanto natural da flor da cerejeira, que singulariza o beleza singela e pura.
ResponderEliminarTenho-a também como uma árvore associada à paz e às boas praticas do bem-fazer aos outros e à natureza, de cultura ancestral japonesa.
fica um beijo com estima e amizade.
Mais uma bonita publicação, fotografia e prosa.
Mudam se os tempos, as vontades e o tipo de paisagem, mas AC, sou suspeita, adoro cerejas e tenho paixão pela flor da cerejeira, assim como a cultura que lhe é de essência.
ResponderEliminarA foto é linda.
Beijinho com amizade, estima e carinho.
os tempos mudam e com ele tanta tradição também.
ResponderEliminardesejo uma boa Páscoa para ti e família
beijinhos
:)
Feliz Páscoa AC! Para ti e a família!
ResponderEliminarAbraço!
AC :
ResponderEliminarAté as paisagens se rendem ao valor dos mercados mais rentáveis.
Mas a beleza, essa permanece sempre em terra fértil não é verdade ?
Um beijinho e uma santa Páscoa !
O Toque do coração
Por aqui, o calor se despede junto com os abacates e as jacas. Daqui a pouco, chegam os ipês. Sempre com os ciclos da natureza, que nos orientam e nos lembram que o tempo passa...
ResponderEliminarUm beijinho,
Ana Christ
Sentada num escano de castanho (o meu pouso preferido), desejo-te uma Páscoa feliz.
ResponderEliminarDigo ainda que gosto do tempo das cerejas e das nuances do teu texto.
Beijinho, AC.
Neste momento nem sei com quantos paus se faz uma canoa, tão à deriva me sinto, sem chão, sem norte...
ResponderEliminarPenso que entendi a tua pergunta. A cotização que valoriza e consolida determinada área do "mercado", varia, consoante a força da oferta e da procura. E, por incrível que pareça, da moda que os designers criarem e instituírem como a nova tendência do 'mercado' das industrias de mobiliário.
A madeira de cerejeira é ainda mais procurada e valorizada do que a de castanho, é uma madeira nobre e rara, porque na competição entre a madeira e o fruto, que atrai os turistas, em duas épocas belas e saborosas: A visão deslumbrante das cerejeiras em flor e a venda do saboroso, dulcíssimo e rubro fruto, prevalece sempre o que for mais rentável para o mercado financeiro...O castanheiro já foi chão que deu uvas/castanhas e agora é importado de França, de Espanha vem A Faia e, o povo beirão delicia-se com o perfume da flor e sabor do fruto, da cerejeira...ainda que a maior parte da produção seja para exportação...
E, agora, vou à deita, que já escrevo de olhos fechados!!
Um beijinho AC...:)
amanhã virei verei o que escrevi, aqui!!
Há mudanças que dão mais cor à vida, por isso se perdoa que tenham vindo pela cor do dinheiro (bem introduzido este aspeto no teu texto). E, numa paisagem assim, até os dias de descanso são mais retemperadores. Desejo-te, portanto, uns ótimos dias e uma Feliz Páscoa.
ResponderEliminarBjo, AC :)
(Penso que deves ter reparado que quando comento pelo TM só aparece Odete Ferreira sem foto. O Ivo está ótimo. Há uma foto atual no blogue)
Boa Páscoa :) e bem hajas pela tua adenda :)
ResponderEliminarImpressionante, como a vida gira em torno dos mercados... e das suas cotações... tão impessoais... e tão alheios da vida de cada um... mas que se imiscuem a vários níveis, na vida de todos... e também eles responsáveis, pela transformação das paisagens...
ResponderEliminarComo sempre, um texto lindíssimo, com uma riqueza na sua construção, notável...
Beijinho! Votos de uma Feliz Páscoa, recheada de doces momentos...
Ana
Bela paisagem a embrulhar um óptimo texto .
ResponderEliminarUm beijo , AC , e bom domingo de Páscoa ,
Maria
Pena, que a cor da paisagem se veja adulterada pela promiscuidade da ganância...
ResponderEliminarAinda bem que existem as vozes dos poetas a lembrarem ao mundo a verdadeira beleza das coisas simples...
Maravilhoso texto!
Abraço e Páscoa feliz .
Adoro cerejas AC, mas posso dizer que dos passeios mais bonitos que já fiz foi pedalar por entre castanheiros em Outrubro passado. Não sei se um dia se proporcionar pedalar por entre cerejeiras em flor ou já com frutos irei mudar de ideias, mas fiquei fascinada com os castanheiros. Boa semana AC
ResponderEliminarMudou muita coisa e nem sempre para melhor. Os castanheiros estão, de facto, a desaparecer, o que é pena. As cerejeiras dão um novo esplendor ao campo. E as cerejas são tão boas e tão breves...
ResponderEliminarO teu texto, lindíssimo, como sempre.
Uma boa semana.
Beijo.
Voltei! E vejo que há uma adenda. Completaste, e muito bem, o teu pensamento primeiro!!
ResponderEliminarConcordo em tudo contigo. Que as mudanças sejam para melhor, porque quando o são, todos beneficiam.
Pena que a cerejeira seja uma árvore de porte razoável e o seu fruto pequeno. Para se comerem cerejas directamente da 'fonte', depois de colhidas as que estão mais à mão, temos de trepar por ela ou subir por um escadote.
A Boa Páscoa desejei-ta lá no meu canto, fica agora a Boa Pascoela. :)
Um beijinho, A.C. :)
É bom lembrar, para que a memória não se apague em futilidades instantâneas, que até a linguagem, como a usada pelo "Poeta", que dá lugar à luxúria de léxico não afectado de neologismos apressados, esse desígnio do respeito pelas raízes culturais deve ser praticado.
ResponderEliminarA corrida atrás dos mercados não pode destruir as raízes duma cultura ancestral. Julgo ser possível conciliar os interesses económicos mais imediatos com a tradição.Não sou contra a cerejeira mas a nobreza do castanheiro deve ser respeitada.
Abraço.
O olhar poético deve prevalecer para que o sentir não seja
ResponderEliminarperdido como objetos do mercado com tabelas de preços...
Retribuindo os teus votos de páscoa, que tu tenhas tido
uma boa páscoa, AC.
Beijo.
Sinto bem o seu sentir! Mas há piores transformações...por exemplo, a substituição de pinheiros por eucaliptos...e as acácias a invadirem e a infestarem a paisagem e os terrenos...onde nos levas "mercado"?
ResponderEliminarbeijinho