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Hélio Pereira, Piódão
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As coisas não são, nem nunca serão, o que eram. Cada momento, para fazer sentido, carece de constante alimento, eterna reformulação do sentir e, por necessária cumplicidade, de se fazer sentir. Uma conquista no caminho trilhado, passada a euforia, não é mais do que isso, mera referência duma ideia que, mal a vaidade assoma, se esvai por entre os dedos. E tudo parece ficar, novamente, sem sentido.
Ontem, enquanto subia os degraus de xisto, temperados com o doce aroma das flores, lembrei-me de ti, avó, de quando falavas, sorridente, dos amenos fins de tarde de verão. Descias as escadas, confiante, de cântaro na mão, em direcção ao fontanário, onde sabias que te esperavam os olhos do teu amado. Fazias de conta que não o vias, mas os teus gestos, por mais que os tentasses domar, denunciavam-te. E, sem te dares conta, era apenas isso que ele queria, um pequeno sinal para dar corda aos seus sonhos.
Gosto da escadaria, sempre gostei. Mas, avó, sem a tua memória, adornada de doces e delicados sorrisos, ela jamais seria o que é.
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Quem sobe e desce essas escadarias todos os dias faz bons exercícios cardiovasculares.
ResponderEliminarUm escadaria de boas recordações.
: )
Serão sempre boas as memórias, quando revisitamos os lugares que hoje são gratas memórias do nosso passado. Mas serão sempre as pessoas, que aos lugares associamos, o grande elo de ligação, que nos une a esses lugares.
ResponderEliminarComo sabes passei há bem pouco tempo por uma experiência idêntica.
Um beijinho, com memória, A.C. :)
Um texto muito bonito AC.
ResponderEliminarPleno de carinho, prenhe de poesia, misto de sonho e saudade.
Um abraço e bom domingo
É a diferença entre uma escadaria qualquer e aquela que tem um significado especial, tornando-a familiar.
ResponderEliminarTenha uma ótima semana!
Perfeita essência de amor e saudade ligada à vida que de tão viva permanece para sempre em outras memórias. Belíssima realidade em belíssima imagem.
ResponderEliminarum abraço
Pergunto-me muitas vezes AC, qual é afinal o sentido de certas coisas, algumas até, que tanto tentamos e passamos para encontrar. A resposta por vezes é não sei, mas depois, dias, meses, anos mais tanrde até, tudo se conjuga e faz finalmente sentido...
ResponderEliminarQuantas vezes um simples objecto nos evoca as mais doces memórias...
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
Para quem sobe ou para quem desce degrau a degrau a memória traz ao cume ou ao fundo do coração, como este belo texto anuncia, perfumes, razões, sentidos, amor em trânsito perpétuo.
ResponderEliminarAbraço.
Dois pensamentos:
ResponderEliminar1 - o efêmero - o que deixa de fazer sentido. (E a minha necessidade de enquadrar momentos e vivências para que se integrem num todo que dê sentido aos afectos, às experiências, como degraus de um percurso, às vezes mais recto, outras mais sinuoso.
2 - as veredas que separam as casas na terra da minha avó (perto de Abrantes). Que boas memórias me trouxeste. De um tempo ido. Que parecia esquecido.
Lindíssimo e tocante.
ResponderEliminarHoje tento ser para os meus quatro netos a avó que nunca tive porque a materna nunca me gramou nem com molho de tomate. O meu avó sim e morreu tão cedo. Os paternos estavam cá, na "metrópole":)
Um abraço
As escadas que nos levam ao regaço da avó, onde o nosso coração habita. Falo assim porque é isso que sinto e porque me revejo no teu belo texto. Da imagem gosto imenso.
ResponderEliminarBeijinho, AC.
AC, passei só para lhe dar um beijinho, continuo em off :(
ResponderEliminarA memória através de uma escada faz permanecer viva a avó e a saudade no teu coração!
ResponderEliminarBeijinho AC
Um subir de escadas embalado por doces memórias do passado é ainda mais bonito em Piodão ou outra aldeia do xisto. Somos feitos e refeitos de sonhos e recordações.
ResponderEliminarAbraço, um lindo resto de semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
As pedras podem ter dentro de si rostos que sorriem. E que nos fazem sorrir.
ResponderEliminarBom fim de semana, AC. Um abraço:)
Passamos a vida a subir e a descer escadas de pedras vivas
ResponderEliminarAbraço
Bonita homenagem à avó: recordar os seus passos, em busca do amor!
ResponderEliminarQuem me dera que o território estivesse impregnado desses degraus que em tempos serviram para alimento dos sonhos!
Abraço
No livro que comecei a ler hoje:
ResponderEliminar"On ne pense pas assez aux escaliers.
Rien n'est plus beau dans les maisons anciennes que les escaliers.
Rien n'est plus laid, plus froid, plus hostile, plus mesquin, dans les immeubles d'aujourd'hui.
On devrait apprend à vivre davantage dans les escaliers.
Mais comment? "
Georges Perec
um texto onde a ternura e a saudade estão de mãos dadas.
ResponderEliminargostei também da foto de Piodão.
beijinhos
:)
Simplesmente uma maravilha, este texto, AC!
ResponderEliminarPara apreciar e reapreciar... todo o pleno sentido, em cada palavra...
Beijinhos
Ana
As avós da nossa memória , que nos trazem doçura , ternura e infância .
ResponderEliminarTão saboroso este relembrar .
Um beijo , AC ,
Maria
Que texto maravilhoso!
ResponderEliminarNa serra da Lousã, as aldeias de xisto também nos maravilham com cenários semelhantes a este que nos traz.
E sim, o que nos faz ser dos espaços é termos memórias deles :)
beijinhos
Doces lembranças. Elas me encantam.
ResponderEliminarGrande abraço.