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AC, Apanhado
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Manhã de domingo. O dia insinuava-se prazenteiro, convidativo para mergulhar, mais uma vez, em plena natureza, comunhão que se pretende habitual.
Após descontraído pequeno-almoço, com o olhar a navegar para lá da vidraça, conjecturando sobre os múltiplos verdes, um último olhar para a mochila, preparada de véspera: calçado adequado, boné, máquina fotográfica, reforço alimentar. Tudo parecia conforme.
Em plena serra, movido pela busca de novos percursos - recompensado, aqui e ali, com novos ângulos de perspectiva - os sentidos prendem-se, de repente, num leve rumor, que se insinua, em harmonia com o silêncio, num cantar muito próprio, pleno de vida, como se cada partícula de som, por mais ínfima, parecesse transportar, consigo, uma tarefa específica, como se cada átomo fosse determinante na composição do puzzle: era uma nascente que ensaiava, livremente, os primeiros passos na encosta.
Descoberta a tela, o apelo ao ficheiro interior surge, de imediato, despoletando um "guardar como" em constante alerta. Depois, sem pressas, as mãos abraçam a água, tentando perpetuar, num acto espontâneo, natural, o afago da frescura líquida, como se de benfazeja auscultação se tratasse.
A água prossegue, contornando obstáculos, respeitando, de forma natural, a lei da gravidade. Também eu, ser que se compraz em cultivar a dúvida, prossigo encosta abaixo, de bem com a vida. Mas, ainda assim, dessincronizado com algumas leis que regem os homens.
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Descoberta a tela, o apelo ao ficheiro interior surge, de imediato, despoletando um "guardar como" em constante alerta. Depois, sem pressas, as mãos abraçam a água, tentando perpetuar, num acto espontâneo, natural, o afago da frescura líquida, como se de benfazeja auscultação se tratasse.
A água prossegue, contornando obstáculos, respeitando, de forma natural, a lei da gravidade. Também eu, ser que se compraz em cultivar a dúvida, prossigo encosta abaixo, de bem com a vida. Mas, ainda assim, dessincronizado com algumas leis que regem os homens.
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AC apanhado...
ResponderEliminarQue bom um passeio sem rumo.
Gosto desses lugares onde a natureza se faz ouvir e descobrir (tb gosto dos passeios pela minha Lisboa, onde descubro SEMPRE qualquer coisa nova).
E transgrediste?!? Conta... Ahahahah
Boop,
EliminarAndo sempre em quase transgressão, fórmula pessoal, metafórica, de cultivar a lucidez.
Quanto a transgressões, fica um desafio a uma psicóloga encartada: que tal descodificar, para lá do que refiro no primeiro parágrafo deste comentário, o título do texto? Vá lá, deixa-te de comodismos, tu tens obrigação de saber que a recompensa vem sempre depois do esforço. ;)
Não faço interpretações selvagens...
Eliminar;)
Agora na minha transgressão: cigarrilha (rara) frente ao Douro
Será que a quase comunhão nos torna menos lúcidos que a quase transgressão? A comunhão/ fusão/ união / filiação não nos permite, a maior parte das vezes, distanciamento nem convida a um pensamento próprio e crítico.
EliminarMas precisamos desse lugar de pertença (à natureza, ou a alguém, ou a um grupo) para nos sentirmos seguros e menos sós.
O que querias dizer não sei...
Mas fiquei curiosa!
:)
Apanhado com a mão no botão :))
ResponderEliminarGM, a minha máquina é modesta, ainda não alcançou a fase do zíper. :)
EliminarFizeste-me lembrar Augusto Gil.
ResponderEliminarNasce uma fonte rumorejante na encosta de um monte/ E mal que do seio da terra brotou logo o seu veio diligente e transparente/Buscou e achou mais baixo lugar...
Bela comunhão com a Natureza. Transgressão? Não!
Gostei de saber que usas o cabelo bem curtinho...:)
Beijinho, A.C. :)
Fui mesmo apanhado, inadvertidamente, na fotografia, não fui? Eu sou assim, muito pragmático naquilo que uso. :)
EliminarUm beijinho, Janita :)
É necessidade humana apaziguar a alma no contacto com a natureza. Muitos aproveitam o fim de semana para se reequilibrarem e, então, dão corda aos sapatos... Parece ser o caso do amigo AC que se revela amante das aventuras ao ar livre.
ResponderEliminarObservador atento, caçador de surpresas acabou por se deixar surpreender pela sua própria sombra... que o perseguia, tenaz, qual anjo da guarda. Era dia de sol, foi o que lhe valeu.
Abraço, amigo.
Parece que está cada vez mais difícil sincronizar as leis que regem a natureza com as que regem os homens, não é?
ResponderEliminarTenha uma ótima semana!!!
Os pequenos prazeres de mosso encontro com a natureza não têm preço! São eles que nos permitem prosseguir em nossa jornada cotidiana. Desfrutar deles é privilégio de poucos.Obrigada por nos permitir compartilhar, por meio da literatura (e imagens), de seus bons momentos.
ResponderEliminarOi, AC!
ResponderEliminarAh, sempre admiro sua capacidade de fotografar com palavras e escrever com imagens!...
Gostei da captura!... E amei esse (re)encontrar-se na natureza, essa comunhão...
Tenho me procurado em flores, gramas e cachoeiras por aqui!...
Lindo!
Beijos, boa semana! =)
Mais um post absolutamente brilhante, em palavras e imagem, AC...
ResponderEliminarPor estes dias, também ando dessincronizada com as leis, pelas quais se regem algumas pessoas... e dou graças a Deus por isso!...
Parabéns, por mais um trabalho excepcional, AC!
Beijinho! Bom domingo e feliz semana!
Ana
Um quase, que nada tem de quase.... A sua silhueta capturada, é prova de tudo.
ResponderEliminarFica um beijinho:)
Adoro observar e capturar imagens da natureza e como é tão bom ouvir o som da água a correr.
ResponderEliminarExcelente fotografia.
Bom domingo
Um abraço
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Belíssimo texto com a qualidade a que nos habituou. A maior parte das leis que os homens fazem colidem diretamente com o estar de bem com a vida.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Mais uma pérola saída de uma imaginação muito fértil.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
Maravilhosa esta "comunhão e transgressão" com a Natureza... Um texto com a excelência do costume.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Olá, vi o blog e gostei bastante. Que texto maravilhoso, achei demais a qualidade dele.
ResponderEliminarTenha uma ótima semana!!
Como gostaria de ter assim um Quase, só para mim.
ResponderEliminarMuito bem capturado este momento de comunhão plena com a Mãe Natureza.
Beijinho
O que nos salva ... " de bem com a vida ainda que dessincronizado com algumas leis que regem os homens."
ResponderEliminarFácil ?
Não !
Mas vale . . .
Beijo grande , AC ,
Maria
deliciosa esta comunhão com a natureza, escrita com mestria e saber.
ResponderEliminaralgumas leis não deviam existir, acho eu.
boa semana.
beijinhos
:)
Comungar pode ser uma transgressão
ResponderEliminarComeçaste bem o dia! E seguiste por ele, também, muito melhor, contemplado a natureza. E é assim mesmo, comungando!
ResponderEliminarUm forte abraço AC!
A água é muito sábia, ao seguir as leis da natureza. Se fizéssemos como ela, a vida seria muito mais leve. Mas, que fazer, se a nossa natureza teima em arabescos e cogitações?
ResponderEliminarAbraço para o fotógrafo apanhado no contraste.
Ruthia d'O Berço do Mundo
Uma comunhão...o homem , a água e a luz! transgressão ? não sei...
ResponderEliminarUm abrço
É bom poder desfrutar da Natureza!
ResponderEliminarGostei muito do texto e o último parágrafo é o mais poderoso.
beijinho
Grande AC, já viu o filme "o efeito sombra"? lembrou-me um pouco essa tua fotografia ;) beijos!
ResponderEliminarO poema nasceu com frescura e rumorejar de nascente. Como um presente da natureza. Foste, assim, recompensado pelo amor que lhe dedicas.
ResponderEliminarBeijinho, AC.
Tudo bonito por aqui . Visitá-lo nos deixa em paz , poeta . Beijos
ResponderEliminarNada como estar, em pleno, com a natureza para (quase) esquecer "algumas leis que regem os homens".
ResponderEliminarSenti-me irmanada...
Bj