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AC, Bosque de coníferas (Serra da Estrela)
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Os passos eram lentos, cautelosos, próprios de quem está fora do seu ambiente, como se, a qualquer momento, algo pudesse acontecer que perturbasse o momento. Havia vida, muita vida, pressentia, mas quase em contenção, como se aguardasse o próximo gesto do invasor para determinar as suas intenções. Parecia que o desmoronar do equilíbrio dependia dum gesto menos conseguido, dum respirar fora de contexto, do desabar duma intenção ainda por concretizar.
Achou melhor parar. Os minutos foram passando e, naquilo que julgava silêncio, algo se começou a insinuar: pequenos sons, leves como o cair duma folha, como o voo dum qualquer insecto, como a delicada carícia da brisa... Começou a sentir, lentamente, que fazia parte do que o rodeava, que era apenas mais um ser a palpitar.
Os músculos começaram a relaxar. O som da queda das folhas tornou-se mais nítido; não muito longe o movimento da água entoava a sua eterna sinfonia; um ou outro pássaro começava a dar sinal de vida. Respirou fundo, em acto libertador, enquanto se fixava na arquitectura das folhas, delicado tecido de discretos seres sempre presentes, sempre a nosso lado, que teimamos em manipular, não lhes dando carta de alforria.
Sentou-se numa pedra. Tirou a máquina fotográfica da mochila e, já totalmente integrado, começou a fotografar, como se quisesse semear, dentro de si, as sensações que as árvores lhe transmitiam.
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AC, Bosque de faias (Serra da Estrela)
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Tantos são os silêncios
ResponderEliminarAbraço
Ah, se todos nós tivéssemos consciência que fazemos parte integrante da natureza, e em momento algum, casta à parte, que linda seria a vida, atrevo-me a dizer que seria tão linda, quanto o seu poema.
ResponderEliminarBoa noite AC
Infelizmente, os aprendizes serão cada vez menos. Não porque não os haja, mas a arte vai rareando...
ResponderEliminarAi as nossas árvores...
O aplauso habitual para a tua escrita.
Bjinho
oi, A.C. , linda conexão entre linguagem, imagem e som...perfeita!
ResponderEliminarUm abraço
Magnífico texto.
ResponderEliminarQue não é de aprendiz, antes pelo contrário.
Bom fim de semana.
Abraço.
Depois de o ler e de ouvir, deixo esta reliquia https://youtu.be/nufb3JysCgYu
ResponderEliminarE registaste a intensidade das sensações na transparência das palavras.
ResponderEliminarBeijinho, AC.
Acha que fotografias podem eternizar sensações? Essa é uma bela ideia...
ResponderEliminarUm texto de Mestre! Maior ainda, por o Mestre se sentir aprendiz na arte de se integrar na Natureza e dela fazer parte. Arte, essa, que há muito do Aprendiz faz parte...complicado? Não!...Sei que sabes que eu sei que tu sabes o que eu sei! :)
ResponderEliminarCreio que, agora, há um receio sempre palpitante, no coração de quem se embrenha pela floresta, qualquer restolhar pode soar a uma presença inimiga. Todo o cuidado é pouco, A.C....
Um beijinho e muito obrigada, por tão belo texto.
Boa semana.
Um belo trecho, uma aula que o homem actual recusa e substitui por motivos fúteis e alienatórios.
ResponderEliminarSendo nós próprios parte de um todo - a natureza - arvoramo-nos em senhores da racionalidade e da propriedade do que nos rodeia, numa insensibilidade estúpida
Se soubéssemos ver e ouvir, como é referido pelo autor AC, a linguagem que emana das coisas, das entidades naturais, evitar-se-iam grande parte das catástrofes que, nestes nossos dias, têm tratamento comunicacional como se se tratasse de matéria de entretenimento.
Abraço.
Gostei e acho que é uma reedição, será?
ResponderEliminarTenho pena de quem ama a natureza como tu, como eu e muitos num aprendizado constante...mas uns quantos "desvairados e gananciosos" conseguem causar o impensável: a destruição.
A música é uma delícia
Um abraço
Não, não é uma reedição, Fatyly. Já escrevi textos com a mesma temática, mormente com a Gardunha como pano de fundo, mas o texto é original. É um bater de tecla que não cansa, de tão necessária.
EliminarAbraço
Esclarecida:))) e não te canses de bater na mesma tecla!
EliminarBeijos
Senti-me no meio desse bosque AC e até me apeteceu dar uns clics. Boa noite :)
ResponderEliminarInteracção com a Natureza. Como se fossemos árvores, pássaros, pedras, ou bichos... Só assim fazemos a aprendizagem do olhar que o coração reclama...
ResponderEliminarMagnífico texto!
Uma boa semana.
Um beijo.
Enorme sensibilidade do "Aprendiz" como a beleza da imagem.
ResponderEliminarBeijinho AC
Adélia
Simplesmente belo.
ResponderEliminarAquele abraço
Belíssimo AC, além de belíssimo profundo e além de profundo essencial! Fotografia, música e prosa alinhados ao propósito da conexão. Que maravilha! Sabe que as árvores seus galhos, ramos, troncos tem o formato das sinapses cerebrais - então é um encontro que acontece não por acaso. A natureza mora dentro! Um beijinho!
ResponderEliminarMais um pedaço de escrita sublime... para apreciar e reapreciar... da primeira à última palavra... acompanhado de uma formidável música...
ResponderEliminarMelhor?... Impossível!
Está fantástico este post, AC!
Beijinho! Continuação de uma óptima semana!
Ana
Que bom essa sensação libertadora do contato com da natureza. Sinto também às vezes a necessidade de fechar os olhos para melhor ouvir e respirar essa felicidade que a mesma me transmite. E é nessa altura que estou realmente de volta a casa!!!Que lindo AC. Beijinho.
ResponderEliminarUma interligação com a mãe natureza, num texto muito belo.
ResponderEliminarAbraço
Uma narrativa de uma beleza única, a transmitir a
ResponderEliminarrespiração sublime da natureza para o significado
das palavras.
A foto é uma meditação!
Maravilhoso, AC.
Beijo.
É uma pena...
ResponderEliminarNão ter natureza "selvagem" aqui por perto.
Ou talvez seja a minha vida que não se organiza no sentido de uma maior comunhão com essa "solidão" tão bem acompanhada.
Também estaria num lugar assim AC... Podes crer!
Que foto tão bonita.
ResponderEliminarsentar e relaxar
ResponderEliminarusufruir e "beber" tudo o que a natureza nos oferece
e a foto saiu muito bem
beijinhos
:)
A nossa pequenez perante a surpreendente Natureza!
ResponderEliminarBelo texto!
beijinho