.
.
.
AC, Romãzeira
..
Sempre que posso desvio-me dos caminhos principais, apesar de, aparentemente, eles terem largueza, bom piso, luzes, sinais, câmaras, holofotes... Curiosamente é por eles que toda a gente quer passar, sempre cheia de pressa, condicionada por um qualquer chip, como se a vida se resumisse ao momento efémero da sua passagem. E como eles correm!
Eu, mortal em contramão, cada vez tenho menos pressa, confesso. Aprendi que a maturação, para se exprimir da melhor forma, requer a pacificação do tempo, ou seja, muito suor interior.
Um destes dias, porque sim, passei junto duma velha quinta, quase abandonada. Os muros, sinal de sabedoria do construtor, mantêm uma postura digna, sem quebras, adornados com heras alimentadas pelo tempo. Espreitei. Uma romãzeira, apesar do desprezo a que parecia votada, continuava a pintalgar aquela espécie de refúgio onde, quero crer, outrora alguém descia as escadas, tranquilamente, de cesta na mão, para levar para casa aquela flor outonal.
Mudam-se os tempos e as vestes, mas a espiral das vontades parece a mesma. A minha, num primeiro impulso, foi subir o muro e colher uma romã, mas algo me prendeu. É que, cada vez o sinto mais, não é a romã que temos na mão que importa. O que faz sorrir, interiormente, é a que levamos dentro de nós.
..
Lindo te ler e ver teus pensamentos...Realmente, nem sei se ter a romã em mãos te faria mais feliz... ADOREI! BJS, CHICA
ResponderEliminarFizeste bem em não ter colhido a romã, A.C. Na árvore será muito mais útil e benfazeja, alegrando o olhar dos caminhantes e saciando a sede dos pardais.
ResponderEliminarUm beijinho com votos de bom fim de semana.
É assim com as romãs e com tantas outras coisas que encontramos nos caminhos. [Raramente as colho. Só em fotografia.] O melhor de tudo é esse poder que temos de as deixar lá e ao mesmo tempo as trazermos dentro de nós. :)
ResponderEliminarPor aqui se diz que há pessoas que não sabem mais viver se não estiverem ligadas a alguma coisa - e, por "coisa", deve-se entender algum aparelho, algum fruto da tecnologia de última geração. Surpreende que gente assim não tenha olhar algum para as romãs, em seu lento processo de maturação ditado pela natureza?
ResponderEliminarOlá, PN!
ResponderEliminarBem bonito a gente perceber que o interior é o que conta em tudo na vida...
Seja feliz e abençoada!
Bjm de paz e bem
PN? Não se enganou no comentário, Roselia?
EliminarAbraço
Fala a voz de um homem maduro, que sabe que a vida é muito mais mais que uma mão cheia de corpo.
ResponderEliminarMuito bonito AC.
Beijinho com estima e carinho.
A pressa vertiginosa em que andam as pessoas e principalmente os que ainda se encontram em "maturação" é de os fazer travar a tempo e com tempo mostrar-lhes as "romãs" e não só. Já apanhei fruta com as netas que uma delas queria à fina força ir para casa ver uns bonecos televisivos e com isso deixei-lhe a sementinha que já germinou...a pressa é inimiga do que de melhor há na vida: saber viver!
ResponderEliminarGostei muito!
Beijocas
E como deve ser boa a sensação desse teu olhar, a sensatez de escolha de caminhos!
ResponderEliminarAdorei cada frase do teu sentir.
Boa semana AC e um beijinho com muito carinho.
Adélia
Que engraçado, por onde andei este fim de semana havia imensas romãzeiras e tantas foram as vezes que quis parar para colher uma como foram as vezes que não parei nem colhi, inconscientemente julgo eu :)
ResponderEliminarUma romã já marchava!
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
Uma pessoa que gosta de percorrer os carreiros sabe que a pressa devora os momentos que maravilham o olhar... Por isso deixou a romã na árvore porque tudo quanto viu lhe enfeitou o coração...
ResponderEliminarMagnífico texto!
Uma boa semana.
Um beijo.
Verdade! Nesse caso, aquela romã não colhida... será sempre especial e mais lembrada...
ResponderEliminarSempre uma maravilha, passar por aqui... por caminhos tão especiais... a que nos conduz esta maravilhosa prosa poética!
Beijinho! Feliz semana!
Ana
Quando não se colhem
ResponderEliminarsecam nos ramos
Abraço
Aqui pelos meus lados as romãs só se encontram nos supermercados... ou talvez no quintal de algum vizinho que as tenha trazido de algures para tornar mais seu, e mais rico, o seu pedacinho de terra.
ResponderEliminarMas nos passeios que faço no meu Algarve passo também por uma quinta, de altos muros de pedra, que à laia de sebe tem uma imensidade de romãzeiras, que lançam os seus ramos para a estrada (uma daquelas bem secundária e sossegada). Quando por lá passo os frutos estão ainda verdes, e longe da sua cor rubra e da sua doce suculência.
Às vezes é isso que me afasta da tentação de colher o fruto... o desencontro dos timings... Num encontro feliz, com uma doce romã madura, que te cativou no meio do nada... não vejo porque não colhe-la.
Mas podia ser amarga, ou estar apodrecida... assim permaneceu doce, idealizada, e imortalizada nas tuas amáveis palavras.
Sabes uma coisa AC?
EliminarNa minha casa nova tenho uma romãzeira!
:)
Afinal vou ser eu a "vizinha" !
Ver a vida em toda sua beleza natural é poesia para os olhos e para a alma. A romã já fazia parte do seu "Eu"
ResponderEliminarUm abraço
Muito desejei saber teu nome para dizer-te: Maria, que linda poesia em prosa carregada de lirismo, mais que a romãzeira carregada de romãs! Que seriam as iniciais "Antes de Cristo"? Ana Cláudia?... Se o vinho é bom não importa a procedência, assim como à beleza deste texto, pouco importa o autor. Ele está divino, AC! Parabéns!
ResponderEliminar"Pois o que no faz sorrir,
É o que há dentro de nós!"
Dissestes com terna voz
Qual ternura de um vizir
Rico que vê o porvir
Não como um segredo atroz,
Mas como um sonho veloz
Que passa e deixa o sentir.
O teu poema sem verso
Traz-nos o segredo inverso
Que esconde a poesia
Que por caminho transverso
Conduz-nos ao universo
Da beleza e da magia.
Grande abraço. Laerte.
AC? A de Agostinho, Laerte. :)
EliminarAbraço
Caro AC,
ResponderEliminarEste teu belo caminhar poético, espelha uma filosofia
sábia sobre a vida na sua manifestação mais sublime,
na transcendência, interiormente.
Voando nos espaços dos amigos para deixar um feliz
final de semana!
Beijo.
Falar do desapego e da riqueza interior , de uma forma bela e poética , como nos habituou .
ResponderEliminarClaro que gosto , A.C.
Um beijo ,
Maria
Nem toda fruta é para morder. Algumas se contentam em apenas ser :). Um beijinho na testa.
ResponderEliminarFascina-me a "meligrana" (romã em mirandês) e toda a sua simbologia. E o teu texto também.
ResponderEliminarBeijinho, AC.
AC
ResponderEliminartambém eu me desvio dos caminhos seguros e me meto em atalhos, para descobrir algo que me chame a atenção.
neste caso acho que tinha colhido uma romã
beijinhos
:)
Meu caro, Homónimo
ResponderEliminar(s/almejar chegar-lhe aos calcanhares, eu que sou um pobre e rústico escriba)
Apenas duas notas.
A primeira para anunciar que ando a comê-las, sumarentas e vermelhas, em jejum e a apanhar o primeiro sol da manhã no ripanço, que me entra sem cerimónia pela janela.
Hoje, domingo, vim tirar a barriga de misérias aqui. Deve ter notado a minha ausência ou intermitência. Deve-se a muita coisa: preguiça, protelamento mas sobretudo por motivos de saúde. Estou fazendo o caminho com passo e rédea curta pois fiz um EAM. Há um ano repararam- a canalização com repasses e agora... Diz o povo "o futuro a Deus pertence". Com maiúscula que é um nome próprio. Eu sou comum. Fico-me por aqui pois não me atrevo a conjugar verbos. Regulares e irregulares.
Não sei se a inteligência da escrita ne fez alguma enxertia. Como não tenho pachorra a esta hora, ainda mais com estes caracteres minorias... aqui vai
Um abraço.
Tão lindo, AC!
ResponderEliminarClaro que eu teria talvez apanhado a romã, para mim e para uma das minhas filhas que é doida por elas, mas...o que fica dentro de nós é de facto o que nos marca mais verdadeiramente.
beijinho