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AC, Campanário
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Já há muito que ninguém brincava no largo sobranceiro ao campanário. Os tempos de agora são de mil e um condicionamentos, com sete olhos a espreitar em cada esquina, mas naquela tarde, fosse lá por que fosse, duas crianças brincavam por ali. Talvez fossem irmãos, talvez fossem primos, não interessa. O certo é que, num tempo em que todos os passos duma criança tendem a ser condicionados em grande grupo, entre quatro paredes, com sequelas do lado de lá e de cá, ver por ali duas crias a brincar, em aparente harmonia com o cenário que as rodeava, não era normal.
- Eu sou um cavaleiro, montado num cavalo branco, e ali em cima é a minha torre.
- És um cavaleiro? Pois deves ser bem tonto, como aquele D. Quixote de que fala o tio. No alto da torre devem estar as princesas, prisioneiras da sua sorte, e os cavaleiros costumam aparecer de cavalo para as libertar.
O suposto cavaleiro pareceu acusar o remoque. Às tantas, como se algo agitasse as águas em que navegava o seu faz de conta, retorquiu, de sorriso a bailar:
- Rita, quando me pedes para te ajudar a fazer a cama, isso é para te libertar?
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Adorei a foto e esse final hilário ! Bjschica
ResponderEliminarPena tenho de não ver os adultos a brincar mais vezes.
ResponderEliminarMuitas vezes, porque a minha prática profissional isso o permite, brinco e ponho "crescidos" a brincar. Com berlindes, fantoches, máscaras, panos, carrinhos, ...
Muitos parecem ter-se esquecido de como é bom fazê-lo.
E também no dia a dia, nas pequenas coisas, como insinua a tua última frase.
Há histórias e brincadeiras de faz-de-conta...que têm muito que contar!
ResponderEliminarGostei de ver essas crianças brincando na rua, coisa invulgar nos tempos que correm e, sobretudo, da perspicácia do 'cavaleiro'...
Bom fim-de-semana, A.C.
Um dia seremos de novo crianças
ResponderEliminarE eu pensava que isso de viverem as crianças dentro de quatro paredes fosse coisa apenas do Brasil...
ResponderEliminarFaz todo sentido...o menino mostra argúcia e sensibilidade.
ResponderEliminarum abraço
Crianças...um "bem" cada vez mais escasso!!! Que isto agora o pessoal quer é cães...
ResponderEliminarAinda há crianças a brincar fora das quatro paredes embora supervisionadas por pais e ou irmãos mais velhos.
ResponderEliminarA Rita deve ter ficado sem pio não fosse o cavaleiro zangar-se e não a ajudar mais. Nunca perdi esse lado maravilhoso de uma criança e tenho histórias bem ao me jeito:)
Gostei muito!
Um enorme abraço ó "faz-de-conta", aceitas?
Não sei se as crianças de hoje sabem brincar ao faz de conta...
ResponderEliminarUma pena não é?
Boa semana AC
Chapelada para tão inspirado texto!!
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
AC olá!
ResponderEliminarÉ mesmo raridade ver crianças nas praças ou ruas, a brincar descalças e com as bochechas vermelhas, sob o carinho do sol e da grama verde.
Um beijinho!
A inocência. A brincadeira ao ar livre. A imaginação ao deus-dará... Magnífico texto!
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
As crianças de hoje salvo raras excepções. já não brincam na rua. Não fora os recreios escolares e elas nem sabiam o que essa palavra queria dizer.
ResponderEliminarGostei da sagacidade do rapazinho.
Abraço
Ownnn... que lindo final que ressoa a imaginação sonhadora do menino! Amei!
ResponderEliminarFoste buscar uma página dourada que nunca se apagará. E este cavaleiro galgou as brumas do tempo e olhou a vida.
ResponderEliminarGrata por este sorriso que se escapa.
Beijinho, AC.
O Faz de Conta a fábrica do imaginário
ResponderEliminarinfantil tão importante e quase em extinção
na experiência da criança atual infelizmente.
Um ponto me chamou atenção, que talvez ,
colocado no teu texto, que a mulher não
precise de um príncipe para a libertar de
um castelo, mas uma boa ajuda nas
tarefas domésticas, já liberta...
Votos de um final de semana alto
astral, AC!
Beijo.
Maravilhoso o universo das crianças... sem o peso da realidade...
ResponderEliminarCada vez mais raro, também... encontrar duas crianças... a brincar... e cuja preocupação não seja passar de nível, agarrados a um qualquer gadget... na maior parte do seu tempo livre...
Mas assim é... a involução dos tempos...
Adorei o texto... que me fez mergulhar no universo das crianças... no tempo, em que as crianças ainda sabiam brincar...
Beijinho
Ana
Realidade dura essa, a de crianças enclausuradas dentro de quatro paredes, protegidas do mundo dito real, quando o mundo não real, o virtual, é bem capaz de num futuro não muito longínquo fazer maiores estragos. Penso eu, mas a bem dizer não tenho certeza de coisa alguma. Apenas de uma, a certeza de que ar livre, céu azul, sol com algum calor, fazem milagres, seja nas crianças, seja em adultos que precisam de bem saber tomar conta dessas mesmas crianças.
ResponderEliminar"Rita, quando me pedes para te ajudar a fazer a cama, isso é para te libertar?".
Isto é muito, muito, bom. Mesmo.
Beijinho, AC :)