AC, Paisagem com Estrela ao fundo
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Os passos eram firmes, determinados, apesar duma constante espada, na sombra, a ameaçar travar a marcha. Talvez por isso. A vida, na sua essência, baseia-se no risco de ousar ir mais além, controlá-la está fora de questão. Há, pois, que depurar os empecilhos, contornar os profetas da desgraça, estar acima da filosofia dos donos dos quintais, especialistas em fronteiras.
De repente, qual convite irrecusável, insinua-se a pausa. O olhar alonga-se, planando na sensação de descoberta duma espécie de portal com ligação directa à alma, a configuração das coisas ganha outra dimensão. O tempo pára. Cada pormenor ganha vida, como que a dizer que tudo conta, sente-se o respirar do silêncio. Às tantas, apesar de apenas em esboço, insinua-se a dúvida: se eu estou, por que é que tu não estás?
Sim, eu sei que caminhar, muitas vezes, é descobrirmo-nos na solidão. Mas, podes crer, é nessa caminhada que se forja a cumplicidade mais pura. É disso que todos precisamos, é isso que todos nós procuramos. Apesar de, cada vez menos imunes a ruídos, continuarmos obcecados em ser donos de um qualquer quintal. Tudo por que queremos uma recompensa imediata, por mais ilusória.
Talvez, um dia, nos encontremos.
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"caminhar, muitas vezes, é descobrirmo-nos na solidão."
ResponderEliminarBonita imagem esta, que tem tanto de bonita como de real.
Boa tarde AC
Noname, muitas pessoas confundem caminhar com facilidade. Não tem nada a ver, estou ciente que sabe muito bem disso.
EliminarAbraço :)
Texto e imagem em perfeita sintonia.
ResponderEliminarDuas solidões que se olham, mas não se encontram.-: a Serra coberta de neve, e o sobreiro quase desnudo.
Do outro lado estás tu, pausando na caminhada e olhando ambos, mas perdido nos teus pensamentos...
Deste, estou eu, imaginando, quiçá, o que nem sequer te passou pela mente; somente, porque também tenho direito ao meu quinhão de quintal! :)
Bom Domingo e excelente semana, A.C.
Um abraço.
Longe de mim imaginar o que te passou pela mente, a minha preocupação apenas se cinge ao passar da mensagem.
ResponderEliminarA leitura permitiu-te construir um cenário? Óptimo, todos nós estamos a carecer de alimentar as nossas interioridades.
Um abraço, Janita :)
Nossa percepção do tempo - com suas pausas - muda. Muda com o tempo...
ResponderEliminarGosto da imagem, que me passou uma sensação de paz. Gosto do texto, mas não desses donos de quintais especialistas em fronteiras. Não gosto de fronteiras.
ResponderEliminarUm abraço e bom domingo.
E o problema de muita gente... será mesmo esse... o descobrir-se a si mesmo... na solidão... e a dar-se conta, de que afinal nem consegue conviver consigo mesmo... mas achando que consegue conviver perfeitamente com os demais... por isso... para a grande maioria... o silêncio pesa... e não reconforta... pois atemoriza... ouvir-se apenas a si próprio... Falta de hábito!... E cultivo do mau hábito... de se ter uma plateia aprovativa... a a dizer maravilhas do seu próprio jardim... quando se calhar... nem dele se saberá cuidar devidamente... mas cuidando de se ter as mesmas flores que os demais... para não se ser diferente... e se ter um quintal idêntico ao do vizinho!...
ResponderEliminarMais um belo pedaço de escrita, por aqui... que nos abre os horizontes da reflexão...
Adorei igualmente as imagens... com uma belíssima moldura natural...
Beijinho! Feliz final de domingo, e uma óptima semana!
Ana
AC, eu já tenho um quintal. Nele cabe muita gente, mas muitas vezes passeio nele sozinha e descobro-me na solidão, umas vezes porque quero, outras porque sim :)
ResponderEliminarBoa noite AC
A busca por nós próprios tem que ser incessante.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
Fiquei a olhar as fotografias, tão belas! Depois li este excelente texto e fiquei presa às palavras e pensei nos inúmeros códigos que a gramática não refere...
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
AC, como sábias são estas tuas palavras. Acredita que há quem não as entenda. A procura da sensação mediática e do mostrar posse sobre algo ou sobre alguém tolhe o ser nas suas mais valias genuínas.
ResponderEliminarGostei da foto. A semana passada passei à margem da Serra da Estrela. Estava branquinha.
Agora fiquei horrorizada com devastação que as nossas Serras sofreram por conta dos incêndios.
Fica um beijinho com estima e amizade.
Pobre de quem: "Apesar de, cada vez menos imunes a ruídos, continuarmos obcecados em ser donos de um qualquer quintal. Tudo por que queremos uma recompensa imediata, por mais ilusória."
ResponderEliminarO caminho é sinuoso e cheio de obstáculos e o segredo é extinguir o quintalinho e ir sempre a abrir caminhos para um quintalão onde cada um terá o seu papel. Desde que nasci é essa cumplicidade que vou construindo. Por vezes vai tudo abaixo...mas não desisto da minha interioridade e ou integridade.
Não sei se me fiz entender!
Gostei imenso das fotos e das tuas palavras.
Beijocas
Nenhum quintal é de ninguém, e todos os quintais ao mundo pertencem...! A solidão às vezes é necessária porque nela nos descobrimos e nela nos encontramos. Gostei muito deste texto que me transmitiu quietude e paz de espírito que tantas vezes procuro e não encontro. Um abraço AC.
ResponderEliminarEssa foto é de uma amplitude e de uma clareza extraordinárias.
ResponderEliminarE esse portal é de vastas interioridades.
Beijinho, AC.
"contornar os profetas da desgraça, estar acima da filosofia dos donos dos quintais" e "descobrirmo-nos na solidão", será, muito provavelmente, o segredo da vida. Ou, não sendo, é bem capaz de ser a melhor forma de conseguimos caminhar com algum equilíbrio nisto que se chama de viver.
ResponderEliminarBeijinho, AC, tenha uma óptima semana :)
PS: Árvores são uma das minhas grandes paixões, uma pancada como outra qualquer, tenho um enorme respeito por árvores, vá lá saber-se a razão. Essa sua foto que envolve o texto é simplesmente magnifica.
Belíssimas as duas fotos!!
ResponderEliminarEsta caminhada interior que sempre poderá levar
aos significados mais sublimes da vida, na nudez
da alma em registro de essência.
Ser é sempre mais fértil do que ter.
Maravilhoso a profundidade reflexiva do
texto, AC.
Beijo.