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Reedição
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O pai partira cedo. E, desde que se recorda de ser gente, habituara-se a ver na mãe um rochedo imenso, imune às intempéries. Aquela caixa-forte, sem aparente palavra-passe, levara de vencida todos os escolhos da vida que se lhe foram deparando, construindo uma reputação de determinação e solidez.
Rita foi crescendo à sombra daquela imponência, demasiado assustada para perceber ou questionar. E a mãe, de tão ocupada que estava na sua luta, esquecera-se da matéria frágil de que é constituída uma flor.
Os anos passaram e, à medida que a lenda do rochedo se cimentava, também a fragilidade de Rita se acentuava. Quase irreversivelmente.
Um dia o tempo, inexorável, bateu à porta do rochedo. Este, vencedor de mil batalhas, sabia que o novo obstáculo era intransponível. E começou a fraquejar. Rita, que de tão frágil nunca chegara a entender a grandeza da mãe, escolheu o momento impróprio para amuar, atribuindo-lhe a sua fragilidade. E cultivou a distância.
O rochedo ficou à deriva. E só quando este se desfez em pó é que Rita percebeu que tinha perdido a oportunidade de se tornar uma flor viçosa.
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Reedição
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Esta foi, de facto, uma oportunidade irremediavelmente perdida.
ResponderEliminarPenso que sempre houve, ao longo dos tempos, flores que murcharam e secaram à sombra de rochedos, que as fragilizaram pensando que as protegiam das agruras da vida. Muito mais frutuoso seria se tivesse havido mais calor e afecto, do que segurança e conforto.
ResponderEliminarO final, acaba sendo desastroso para ambas as partes.
Pelo menos aqui! :)
Claro que, como sempre, esta é a ilação que tiro do teu texto, mas a intenção de qualquer escriba/argumentista, é deixar que o leitor interprete o 'filme/mensagem' à sua maneira, verdade?
Beijinho, AC.
Fica bem!
Como esta, se não tomamos atenção, tantas oportunidades perdemos na nossa vida.
ResponderEliminarÉ preciso estar atento aos mistério da vida para se chegar a tempo a alguma parte.
ResponderEliminarUm bela prosa poética, AC
Um abraço,
É a história de muitas vidas; Mudam-se os nomes, apenas.
ResponderEliminarUma história, vezes demais repetida. A rocha, ciente já do que é a vida, protege. A flor que em botão quer rapidamente ser rosa, e nessa tarefa não ter tempo de ver com olhos de ver.
ResponderEliminarBoa noite, sô AC
Oportunidades desperdiçadas... lições aprendidas, talvez tarde de mais. A vida é assim AC.
ResponderEliminarBoa noite
Essa flor, viveu sempre na sombra do rochedo e quando este desmoronou, percebeu que já não havia voltar atrás...infelizmente uma realidade frequente.
ResponderEliminarGostei muito!
Um beijinho, AC. :)
Vou levar teu texto às minhas filhas
ResponderEliminare nada fazer
para que a mãe delas não o leia
Quantas Rita não há por esse Mundo fora!
ResponderEliminarQue depois choram lágrimas de crocodilo quando perdem o rochedo.
Aquele abraço
Como a aparência reverberou e criou um hiato entre o rochedo e a flor...
ResponderEliminar(Saí tão reflexiva após a leitura)
Um texto profundo, como sempre e para mim, carregado de metáforas e desdobramentos.
Beijinhos, A.C.
Deste uns belos retoques e pois é AC quantas Ritas não haverão por aí?
ResponderEliminarMuitos "rochedos" deixados em lares agora nesta altura é que querem visitar num nham nham tal rosa murcha...e os rochedos ainda com laivos de memória dizem NÃO!
Oportunidades perdidas de quem só vive em torno do seu umbigo.
Repito que gostei imenso:)
Aquele abraço sincero
Diz o povo que quem semeia ventos, colhe tempestades.
ResponderEliminarEnsinar a reciprocidade não é fácil especialmente para as mães-rochedo. E ninguém escolhe a forma como é mãe... nem como se aprende a ser filha...
Soubessem umas e outras que por detrás dos rochedos há frágeis flores...
Às vezes o rochedo sufoca a flor. Por força, ou por ignorância.
ResponderEliminarE quando o tempo tira a força ao rochedo, à flor já não resta fôlego para reagir.
Abraço e saúde
AC
ResponderEliminarquantas ritas existem por aí que nem sabemos e
quantos rochedos também!
gostei da imagem de suporte.
saúde e beijinhos
:)
http://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/
Lindo, tocante, emocionante...Leitura maravilhosa, como sempre! abração,chica
ResponderEliminarUm texto belo e surpreendente. Uma reflexão profunda. Entristeceu-me, mas a vida tem muitas pautas desafinadas.
ResponderEliminarUm beijo, caro amigo AC.
Que texto fantástico, e como se vê Ritas por aí, sem rumo, sem eira nem beira... ficou como ficou. Só dá pena.
ResponderEliminarParabéns, AC, por rico texto!
Bjus, um bom fim de semana.
"Rita, que de tão frágil nunca chegara a entender a grandeza da mãe, escolheu o momento impróprio para amuar, atribuindo-lhe a sua fragilidade. E cultivou a distância.
O rochedo ficou à deriva. E só quando este se desfez em pó é que Rita percebeu que tinha perdido a oportunidade de se tornar uma flor viçosa."
Ótimo testo. Bela imagem. Adoro flores assim, deixo-as assim no meu jardim, são as "dried flowers". Um grande abraço
ResponderEliminarCultivar as distâncias... algo que nos é pedido, expressamente, nos tempos actuais... como a vida consegue ser irónica... dependendo do contexto...
ResponderEliminarMas em relação ao espírito primordial do texto... quantas Ritas existem... quando os afectos e os rochedos, se têm como certos!...
Só quando os nossos rochedos dão algum sinal de finitude... é que pensamos seriamente no nosso distanciamento deles... mas às vezes... nem sequer se está perto, para poder ler ou entender tais sinais...
Pobres Ritas... quando as fragilidades se transformam em distância... e se transformaram na próxima geração de pedra... pelos piores motivos... tendo de conviver de perto, com a sua consciência (se ainda a conservam), sem poder resgatar o passado... e sem poder resgatar-se... nada fácil!
Mais uma belíssimo texto... que de uma forma transversal, aborda a problemática da generation gap... que a pressa da vida, cada vez mais acentua... e dita cada vez mais cedo... com que idade rondará agora, o que os jovens de hoje entendem por " ser-se cota"?... :-))
Beijinhos! Bom fim de semana!
Ana
Quanta beleza e sensibilidade no texto!
ResponderEliminarTão cheio de tanto !
ResponderEliminarTanto que se perde.
Ficou um nó na garganta.