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AC, Serra da Maúnça
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O convite surgira, apelativo, e não havia como dizer que não. E lá fomos em busca da Serra da Maúnça, prolongamento geológico da Serra da Gardunha.
A partida foi dada no santuário de Santa Luzia, no Castelejo, padroeira dos olhos, situado num promontório com uma bela vista envolvente. Mas o projecto, sedutor, iria exigir mais, muito mais.
As primeiras centenas de metros foram tranquilas, com passagem por vacarias e pomares de variada índole, com predominância de cerejais, de plantação recente. Mas logo o caminho se começa a inclinar, como que a lembrar que as coisas gratas exigem sempre um esforço suplementar.
Passámos por matagais, com predominância de urzes e giestas, que rejuvenesceram a zona, substituindo o pinheiro, após dramáticos e inquietantes incêndios. Mas, indiferente às cogitações dos visitantes, o caminho continua a inclinar. E a marcha torna-se mais lenta, enquanto as colmeias se tornam elemento habitual da paisagem, com um leve zunzunar como música de fundo.
Mais um esforço, um gole de água vem mesmo a propósito, e começam a surgir medronheiros e alguns castanheiros, com mais colmeias de permeio. Por aqui cultiva-se mesmo o mel.
Chegamos, finalmente, ao topo. Um ou outro pinheiro, sobreviventes de incêndios e ventanias, a fazer companhia aos aerogeradores eólicos que povoam o alto das montanhas envolventes. Estacionamos junto dum afloramento granítico, autêntica ilha em mar xistoso, e deixamo-nos transportar na paisagem, disponível num ângulo completo, quase diria mais que giro. A distância, consagrada em diferentes horizontes, cada um com a sua particularidade, convida a um sorriso discreto, mas de ampla satisfação. Os deuses estavam mesmo generosos quando configuraram a altitude e a latitude daquela montanha. Quantas perguntas refugiadas na penumbra, como se tudo fosse perceptível! Ali, perante o impacto da grandiosidade da envolvência, a repor cada um no seu verdadeiro lugar, ninguém ostenta rótulos, ali apenas se sente. Profundamente.
Refeita a alma, havia que cuidar do corpo. E os acepipes, saídos das diversas mochilas, cumpriram bem a sua função, dando azo a uma conversa despreocupada, bem condimentada de risos e sorrisos.
Bem refeitos de corpo e espírito, e com a conversa em dia, percorremos o que restava do cume e começámos a descer, serpenteando até à aldeia do Açor, onde, por entre sorrisos, aproveitámos para adquirir alguns produtos locais: mel, aguardente de medronho - de produção do ano anterior - queijo de cabra e algumas romãs. Ainda houve quem invocasse as castanhas, mas essas ainda precisavam de mais um tempo de maturação.
Um adeus, mais sorrisos, e a descida continua até à Enxabarda, terra de confirmada resistência às históricas invasões francesas, onde nos aguarda o transporte que nos levará de volta ao Fundão, de alma cheia e de bem com o mundo. Sem máscaras.
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Acredito que tenha sido um passeio maravilhoso
ResponderEliminar.
Abraço poético
AC
ResponderEliminarDeve ter sido um passeio que lavou a alma e a vista.
Beijinhos
:)
Que bom que o convite foi aceito. Acho, ou melhor, tenho certeza, foi muito legal. Linda foto! abração,chica
ResponderEliminarUm belo passeio para revigorar o corpo e fortalecer a alma.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Á margem: Estou sem computador que avariou e com o meu problema de olhos é muito difícil comentar, no Smartphone
Mais uma vez, não escreveu, pintou, com realismo e, levou-nos a todos nesse passeio. Muito obrigada :)
ResponderEliminarBoa noite, sô AC
Que belíssima descrição de uma passeio pelas serrarias beirãs!
ResponderEliminarPareceu-me assistir a um filme narrado, onde cada pedaço de caminho é sentido por quem 'ouve' o narrador.
Fiquei com água na boca quando chegaste ao queijo de cabra. Adoro!
Obrigada por nos teres levado contigo...sem máscaras de falsidade, mas com a máscara protectora, no bolso...:)
* serranias beirãs.
EliminarDesculpa.
Já pedalei muito pela serra do Açor que achei maravilhosa, mas quando li Maunça achei engraçado, aqui, na serra d'aire e Candeeiros também há uma Maunça bastante ingreme e. Dificil de subir. Compensa a chegadaa ao topo e a vista fantástica. Boa noite
ResponderEliminarConheço muito mal a região.
ResponderEliminarAquele abraço
Uma trilha perfeita para o corpo e a alma.
ResponderEliminarUm convite desses que preciso_ vegetação agreste ,muito verde , montanhas e muita paz. E um cansaço que revigora.
Deu inveja AC
deixo abraço
Que maravilha uma excursão assim, e ainda sem máscaras... É muita felicidade.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo belo passeio turístico que ora me proporcionaste.
ResponderEliminarAbraços,
Furtado
Gostei muito do passeio. Com um guia tão experiente e apaixonado pela natureza, fico com vontade de conhecer. E do Fundão tenho boa experiência gastronómica.
ResponderEliminarBeijinhos, AC. :)
Oi, A.C. que belo passeio e muito bem descrito...acompanhei de perto e sentia as mesmas alegrias. Ninguém resiste a uma bela paisagem.
ResponderEliminarUm abraço
Após ler seu poético texto, não pude deixar de refletir sobre a colocação: "coisas gratas exigem sempre um esforço complementar". Tudo é tão magnífico em um passeio desses que o cansaço não pesa na mochila. E a leveza da alma se mostra ao fim dele. Gostei demais! Abraço.
ResponderEliminarObrigado Sô Guia por esta excursão que gostei imenso. Fiquei cansada mas muito bem disposta.
ResponderEliminarAs tuas fotos são excelentes e esta está uma pérola.
Beijocas e um bom fim de semana
Passeios assim são necessários para alimentar a alma e refrescar a cabeça!
ResponderEliminarUm beijo
Também queria ter ido , Poeta .
ResponderEliminarBeijos
Invejável passeio!... Digo eu daqui... mascarada quase até à hipóxia, no meio da toxicidade labiríntica e citadina... esquivando-me de viroses e neuroses!... :-))
ResponderEliminarBeijinhos
Ana
Vim avisar que acaba de entrar céu teu lá! Podes ver aqu8i:
ResponderEliminarhttp://ceuepalavras.blogspot.com/2020/10/blog-post_25.html
Obrigadão! abrs, chica