.
Foto de AC
.
.
Ressaltam, duma revista, numa reportagem fora d'horas, como se não houvesse hoje nem amanhã, imagens de alguns destinos turísticos.
Eles viajam, seja por onde for, mas sempre pelas bordas da interioridade. De concreto trazem fotos, postais, objectos, estórias quanto baste, emoções pagas por catálogo, mas nunca a alma dos sítios. Para isso, supremo desafio, seria necessário despir a roupagem da comodidade e, qual sacrilégio da cultura estabelecida, enfiar-se nas vestes locais, provar da seiva que alimenta aquelas paragens, sentir as expectativas de quem respira por ali. Mas há sempre uma tarifa a pagar, um avião para apanhar.
Hoje, por aqui, o sol chegou a dar um ar da sua graça, mas logo a cor plúmbea se apoderou da paisagem, como que a dizer que, para festejar, terá sempre que haver um tempo de contenção, de recolhimento, para fermentação do que se avizinha. E há quem ore para que tudo decorra a contento.
Vou lá para fora. As aves recolhem-se, as árvores parecem silenciosas, podam-se as últimas videiras. Contudo, nas couves galegas, qual eterno milagre de vida, surgem algumas lagartas plenas de apetite, resultado duma desova de qualquer borboleta mais buliçosa, talvez propensa a contrariar os ciclos duma natureza em convulsão, em busca dum qualquer equilíbrio. E, na hora de recolher para o abrigo, não deixo de cogitar na enorme imprevisibilidade dos cenários que decorrem. Tempos danados, estes.
. .
O Homem (este, não outro) e a Natureza. Sempre em perfeita comunhão, sempre dispersos e ensimesmados, focados nos mil mistérios ainda por descobrir.
ResponderEliminarUm beijinho, AC!
San Lin Fai Lok
ResponderEliminarKung Hei Fat Choi!
É verdade tanta gente que andou nos alvoroços das viagens e não punham um pé nos caminhos para conhecerem bem as cidades, vilas e aldeias.
ResponderEliminarGostei como sempre:))
Beijocas
Eu, a efervescente, a agitadinha, a ansiosa, gosto, para lá de muito, de ver as coisas e os lugares devagar, devagarinho. Sou mesmo pessoa estranha.
ResponderEliminarBom dia, sô AC
Acaba de cair aqui um aguaceiro típico do verão, enquanto ouço alguns trovões. Viajar? Espero uma trégua do COVID, quem é que não sente falta de ver outras paisagens?
ResponderEliminarTenha um bom restante de semana!...
Para entender a alma de um lugar é necessário mais que passar por lá. Assim, o chamado conhecer fica morando na superficialidade. Você é grande observador e quando descreve algo o faz com propriedade e beleza. Abraço.
ResponderEliminarHá uma frase conhecida que diz mais ou menos isto : " Há que muito olhar para conseguir ver".
ResponderEliminarNem toda a gente vê o que tem à sua frente, às vezes basta uma pequena lagarta para dar alguma sentido à vida e a estes tempos danados.
Um beijinho AC.
Fê
Há gente que pode passar ao lado de um comboio e não o ver. E há quem veja pequenas lagartas na folha de uma couve. A humanidade é assim.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom fim de semana
Também faço idêntica leitura... viaja-se para confirmar a localização dos sítios... mas raramente com tempo suficiente para interiorizar a alma dos mesmos... há toda uma agenda a cumprir... até sermos devolvidos à procedência...
ResponderEliminarE grata pela leitura... de quem sabe ler os seus lugares, e melhor os consegue descrever e partilhar por aqui... com alma!...
Beijinho
Ana