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Foto (desfocada) de AC
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Manhã de sábado. O sol, ao contrário dos dias anteriores, mostrava-se arredio, revestido de manto cinzento, com um berloque, aqui e ali, duma tímida luminosidade. Ainda bem, tendo em vista a tarefa que nos aguardava.
O meu vizinho do lado poente, contrariando o individualismo dos tempos, teima em cultivar formas ancestrais de cooperação, recorrendo aos amigos sempre que surge alguma tarefa mais volumosa. Foi assim com a vindima, há algumas semanas atrás, foi agora com a colheita de azeitona para conserva que, como todos sabem, é apanhada mais cedo. E, à hora convencionada, lá estava um rancho de gente para o que desse e viesse. As instruções eram simples: só se apanhava a azeitona mais grossa, a restante ficava para mais tarde, para a produção de azeite. E assim foi.
A colheita começou cautelosa, quase em silêncio, com a preocupação do calibre do fruto. Depois, já confiantes, a tagarelice começou a instalar-se. Fazia-se uma ou outra pergunta para maior conhecimento pessoal, surgia uma graçola e, com o passar do tempo, ganhava-se a confiança necessária para se falar dos filhos, de gostos pessoais, de política, com um ou outro dito mais filosófico. Num sector mais restrito até se falava, imagine-se, da importância exacerbada, para alguns maléfica, que alguns gigantes, como o Facebook e a Amazon, estão a ter no nosso destino. Mas a azeitona, o pretexto para aquela reunião, ia-se acumulando nos baldes e nos cestos, resignada à vontade daquele rancho, travestido com roupagens de formiga e cigarra. Eram humanos, pois é claro. Até os pardais, sempre omnipresentes, acharam por bem dar espaço àquela tribo.
No final, como é da praxe, o anfitrião serviu refeição farta e saborosa, certificando-se de que tudo estava a contento. E o convívio, bem embalado pelo bem-estar do estômago, prolongou-se pela tarde fora, cimentando a comunhão entre gente com uma certa forma de estar na vida, que cultivava de forma natural.
Entretanto, e dando sempre lugar aos imprevistos, fez-se convidada uma chuva miudinha. À memória, tipo aconchego, e para lá do sentir das coisas feitas no tempo certo, insinua-se a emblemática canção dos Beatles, Whit a little help from my friends, na magistral interpretação de Joe Cocker. Por mais que chovesse, a vida, para aquela gente, seguia o rumo certo.
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Texto que gostei de ler.
ResponderEliminarA musica dos Beatles é imortal.
Cumprimentos poéticos
Ah, que bonito! Amo as azeitonas. Que tipo de prensa usam aí para extração do azeite?
ResponderEliminarPor aqui, sol também arredio. A crer na previsão do tempo, não teremos um dia sorridente tão cedo.
Uma publicação muito bela e interessante! :))
ResponderEliminar-
Beijos e uma excelente noite!
A interajuda de vizinhos e não só é meio caminho para uma harmonia gratificante porque Portugal vive muito de "quintinhas e vistas/críticas atrás de cortinados".
ResponderEliminarGostei muito.
Beijos e um bom dia
Que sábado delicioso! Adorei vir saborear uma bela fatia, através das suas inspiradoras palavras, AC, que sempre nos transmitem tão bem, o encantamento e grandiosidade, das coisas simples... e que bela colheita... também de salutar convivência e de espírito de entre-ajuda... que sabe pela vida, nestes tempos pandémicos, que nos convidam a um forçado e ressentido distanciamento... pelo menos em meios mais urbanos...
ResponderEliminarSaudades de Joe Cocker! Assisti a um único concerto dele, em Lisboa, e adorei cada minuto!
Um beijinho! Votos de continuação de uma boa semana, repleta de bons momentos...
Ana
Bela manhã de um sábado poético que para finalizar tem até uma 'chuva miudinha'. Amo ler você, AC sempre trazendo as coisinhas mais simples e mais deliciosas que há _como por exemplo os campos cobertos de qualquer plantação, numa colheita regada a papos descompromissados.
ResponderEliminarE claro com uma ajudinha de amigos, ninguém canta fora do tom.
Perfeito AC
Fica o abraço e na próxima investida do vizinho
por favor chama aqui ... rsrs
Um bonito relato de como os homens podem ser felizes sendo simples...muito mais quando unidos na intenção e no gesto.Para ficar na lembrança são dias diamantes.
ResponderEliminarUm abraço
Através das tuas palavras matei saudades de um tempo que já não tenho mais e veio a saudade a qual se satisfez com o cenário aqui apresentado, Caríssimo grata por compartilhar bjs
ResponderEliminarAC
ResponderEliminarpois, deve ter sido um bom sabado, mas bastante trabalhoso.
gostei de ver as fotos.
o texto magnifico, como sempre.
beijinhos
:)