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AC, Pormenor da Serra da Gardunha
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Já se despediu o odor a fruta madura, com sabor tardio a uvas, pêras e a maçãs bravo esmofo. Pela frente, para além das amêndoas, das nozes e das avelãs, frutos secos de adoçar serões, com a maioria já na despensa, chega-se à frente o eclodir das castanhas, revestidas de camisas cacheirentas, espinhosas, o que muito tem que se lhe diga.
A meio da encosta, em socalco privilegiado, mais plano que os restantes, ressaltam, para além da alameda de castanheiros, pormenores que escapam a um visitante apressado. Ressalve-se o aparecimento súbito de dois cavaleiros, faina pouco dada, habitualmente, a esta altitude, que surgiram para surpreender, agradavelmente, dois hóspedes do dumping das proximidades, instalado no arremedo de planalto que ladeia a antiga Casa do Guarda (florestal, diga-se). Eles deleitaram-se, como era suposto, eu preferi outras latitudes. E, entre andanças e poucas araganças, certos pormenores, por mais ínfimos, foram coçando a minha atenção. Detive-me, por fim, num aglomerado de ervas secas, embaladas pelo vento, que enquadravam, à distância, as nuvens que se iam formando para os lados da Estrela, como que avisando que tudo se movimenta, que tudo, quando menos se espera, pode acontecer. E o pensamento divaga, galga fronteiras...
Interiorizo a mensagem, fotografo a irreverência (condicionada) das ervas e regresso à alameda dos castanheiros. Os ouriços lá estão no alto, plenos de picos e, de forma espontânea, assola-me o comum dito, já muito repisado: o fruto proibido é o mais desejado. Para não desdizer tal coisa, em tarde tão amena, rebusquei um varapau nas redondezas e, qual criança em pleno deleite, derrubei meia dúzia dos ditos, já semi-abertos, e rapinei o seu conteúdo que, lestamente, como se de coisa preciosa se tratasse, coloquei num saco, alicerçado no vislumbre dum copo de generosa jeropiga.
Percorri, sorridente, o resto da alameda, fiz um esboço de festa aos cavalos e, de bem com a vida, como se tivesse resolvido o enigma do pecado original (está bem, está!), entrei no carro para encetar a descida da serra, enquanto trauteava Strawberry Fields Forever.
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O Outono já nos encanta e embala.
ResponderEliminarAbraço
A foto está lindíssima e o texto condiz bem com ela. Fizeste muito em ouriçar porque eu há dois dias atrás rapinei 6 laranjas e 8 tangerinas de árvores de casas em ruínas, mas que a natureza teima em cumprir a sua função em dois galhos mesmo à mão!:)
ResponderEliminarAdorei e gostava muito de conhecer a tua serra:)
Beijos e um bom dia
Um texto simplesmente fantástico! :)
ResponderEliminar*
Enquanto a solidão me perseguir...
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Votos de uma boa noite! Beijos
Ler seu blog tem sido, um post após outro, como fazer um passeio ao longo das estações do ano, aí em terras lusas. Fiquei triste, no entanto, pela falte de uma foto dos castanheiros... Não obstante, a imagem que encabeça o post está soberba.
ResponderEliminarUm abraço e um bom restante de semana!
Achei este post tão inspirador que fiquei a (des)conversar com ele lá na minha rua...
ResponderEliminar~CC~
Gostei imenso da foto e do texto, que como sempre descreve o contacto com a natureza que o rodeia na perfeição, mas o que me chamou à atenção foi este grande pormenor:
ResponderEliminar"...e, de bem com a vida,..."
Um beijinho!
A Natureza sempre a maravilhar-nos. Apetece cantar seja o que for, mesmo quando os ouriços das castanhas picam as nossas mãos. É sempre um gosto enorme passar por aqui. A fotografia é lindíssima.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Tinha-te perdido o rasto e, afinal, estás envolto na mata, como os ouriços. Logo que o tempo se ponha a jeito lá vão elas ao assador!
ResponderEliminarGosto da tua caminhada e acompanho-te na cantiga.
Beijos.
Tão bem narrado, parece que estou lá. Beleza de texto e de Serra, que conheço por via profissional.
ResponderEliminarAbraço.
Como me tinha passado em branco este texto tão maravilhoso. Sô AC, o Senhor é pintor de palavras.
ResponderEliminarBoa noite :)
Momentos únicos.
ResponderEliminarMomentos serenos.
E finaliza um dia feliz.
Belo texto.
Beijinhos
:)
Um verdadeiro privilégio, poder respirar estes ares das serras... através das suas inspiradas e inspiradoras palavras e imagem, AC!
ResponderEliminarGrata pela partilha, destas preciosas maravilhas, AC!
Beijinhos
Ana