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A tarde estava a chegar ao fim. Os grilos faziam ouvir a sua sinfonia, impregnando de louvores as teias dum tempo sem ontem nem amanhã. Uma borboleta esvoaçava no meio dos malmequeres, enquanto mil aromas impregnavam o ar. Ali perto, dois melros bebericavam na água fresca do riacho, saciando a sede depois de um dia de intenso labor...
A quietude insinuava-se, adoçando visões e impressões menos agradáveis doutro mundo, mais complexo e elaborado, mas muito menos harmonioso. Ali estava ele, bicho-homem, perante o mais óbvio da Natureza, como se aquela verdade tivesse caído no esquecimento colectivo. O rumo tinha-se perdido algures, já quase ninguém sabia onde, e até Diógenes tinha sido engolido pelas trevas.
A tranquilidade do local serenava-o. Talvez ainda não fosse tarde. Talvez os reféns dum sistema caduco, perante a iminência da catástrofe, se soltassem das amarras e começassem a olhar em volta. E, principalmente, para dentro de si próprios. Talvez...
Quando regressava, ainda em conflito de ideias, passou por uma série de eólicas. Mais abaixo, no fundo do vale, a azáfama de fim de dia numa quinta fazia-se sentir nas redondezas.
Talvez ainda não seja tarde.
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A quietude insinuava-se, adoçando visões e impressões menos agradáveis doutro mundo, mais complexo e elaborado, mas muito menos harmonioso. Ali estava ele, bicho-homem, perante o mais óbvio da Natureza, como se aquela verdade tivesse caído no esquecimento colectivo. O rumo tinha-se perdido algures, já quase ninguém sabia onde, e até Diógenes tinha sido engolido pelas trevas.
A tranquilidade do local serenava-o. Talvez ainda não fosse tarde. Talvez os reféns dum sistema caduco, perante a iminência da catástrofe, se soltassem das amarras e começassem a olhar em volta. E, principalmente, para dentro de si próprios. Talvez...
Quando regressava, ainda em conflito de ideias, passou por uma série de eólicas. Mais abaixo, no fundo do vale, a azáfama de fim de dia numa quinta fazia-se sentir nas redondezas.
Talvez ainda não seja tarde.
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"Talvez ainda não seja tarde"
ResponderEliminarO regresso às origens como fuga a um mundo que de tão imenso e complexo não somos capazes de assimilar.
Belo texto!
Pois é, amigo, já te conheço o suficiente para perceber onde queres chegar. As tuas palavras são claras e simples, mas nem sempre o sentido é o mais óbvio. Gostei muito do texto.
ResponderEliminarAbraço
QUERO ACREDITAR QUE SIM...QUE O BICHAROCO HOMEM NÃO SE VAI DEIXAR APRISIONAR NAS AMARRAS DO CADUCO...DO VÁCUO,DO CONFLITO...E FINALMENTE ENCONTRAR UMA FÓRMULA MÁGICA PARA TENTAR SER O MELHOR DOS ANIMAIS...(OU NÃO FOSSE ELE RACIONAL)
ResponderEliminarAC,
ResponderEliminarconsegui visualizar o quadro descrito, com a sinestesia, os cheiros e os sons.
espero que ainda não seja tarde...
ah e adoro Van Gogh!
Beijinho e boa noite.
Lídia Borges,
ResponderEliminarObrigado. O percurso do homem em busca do seu destino é inevitável e desejável, mas creio que só teria a ganhar se olhasse mais para a harmonia daquilo que o rodeia (ou daquilo que resta).
Jorge,
ResponderEliminarAinda bem que gostaste, alentejano.
Um abraço.
Pedrasnuas,
ResponderEliminarO bicho-homem está a ficar encurralado nas más opções que tem tido e já não tem margem de manobra. Ou arrepia caminho ou vai tudo ao ar.
Em@,
ResponderEliminarAinda bem que gostou.
Acredito que ainda não é tarde, mas depende muito do nosso envolvimento.
Pois...talvez...Assim houvesse vontade.
ResponderEliminarHá quem diga que nunca é tarde para mudar; mas a mudança necessária teria que ser radical.
Alguém está interessado nisso? - pergunta a minha curiosidade.
Até sempre. Beijinhos
Gostei do texto. Gostei muito da mensagem. Mas estou zangado com a vida e com o Mundo. Estou com vontade de estrangular a generalidade da classe política. Por isso peço desculpa por este comentário.
ResponderEliminarApenas digo que vale a pena salvar o que é possível da Natureza ainda existente.
Abraço
Mariazita,
ResponderEliminarAs coisas estão a ficar de tal maneira que a questão já não é saber se alguém está interessado, somos todos obrigados a estar interessados. Quem se pode alhear destas questões? Creio que ninguém.
Zé Caldeira,
ResponderEliminarCompreendo o teu estado de revolta perante aquilo que está a acontecer. Mas há que preservar a lucidez, pois é previsível a chegada da irracionalidade nos próximos tempos. Vai ser uma prova difícil, com mudanças substanciais no tecido social, mas não podemos perder a esperança. Apesar dos políticos que temos.
Obrigado amigo!
ResponderEliminarAquilo foi um desabafo a quente. Tens razão. É nestas alturas que a lucidez faz de nós alguém de confiança perante os outros. Hoje estou melhor. Digeri algumas mágoas e sinto que vale a pena lutar por dias melhores. Não, especialmente, para nós, mas para os nossos filhos e netos. Quero acreditar, como tu, "que talvez não seja tarde".
Um abraço amigo
Caldeira
Um blogue a revisitar. Obrigada pelo prazer da leitura da sua escrita.
ResponderEliminarPoesia Portuguesa,
ResponderEliminarEu é que agradeço. Já fui espreitar o seu blogue e fiquei agradavelmente surpreendido, ainda por cima com a publicação dum poema meu.
Volte sempre.
Temos que nos agarrar à esperança do talvez e à oração do oxalá .
ResponderEliminarE que o bicho homem que faz parte , neste planeta azul , de um colectivo (tudo que vive ) comece , de facto , a ser o chamado pensante, e tente respeitar e salvar o que ainda resta da natureza .
Porque esta terá forças para se reerguer , nós ... ... oxalá.
Um beijo ,
Maria
Lilazdavioleta,
ResponderEliminarGostei da lucidez tranquila do comentário.
Como diz, oxalá!
Gostei do texto, como seria bom olharmos em volta e ver todo o encanto e harmonia que a natureza nos oferece de mão beijada.
ResponderEliminarBom fim de semana
Lilá(s),
ResponderEliminarSe olhássemos mais para o que nos rodeia, talvez tomássemos decisões mais equilibradas. Mas, infelizmente, parece que muitos de nós já perderam, algures, essa capacidade.
Nunca é tarde para mudar de rumo, o problema está em encontrar o rumo certo!
ResponderEliminarAbraço
TALVEZ NÃO SEJA TARDE VIR CÁ DIZER QUE GOSTEI DAS TUAS MENSAGENS...
ResponderEliminarBOM FIM DE SEMANA
Paisagem em prosa ao jeito de um entardecer que se quer (re)descobrir em novos amanheceres, “adoçando visões e impressões” mais agradáveis a este mundo. Sinfonias, aromas, cores, vida… Natureza em força apelando vivamente à força humana que a (se) salve, bebendo no riacho da credibilidade da mudança. "Talvez não seja tarde" para acreditar que nos voos firmes do entardecer renascem os de cada amanhecer.
ResponderEliminarParabéns pelos textos e poemas que li! Foi um prazer descobrir este espaço !
ResponderEliminarRosa dos Ventos,
ResponderEliminarMuitas vezes encontrar o rumo certo pode ser o trabalho de uma vida.
Pedrasnuas,
ResponderEliminarNunca é tarde...
JB,
ResponderEliminarComentário pleno de harmonia e convicção...
Talvez!
Ana,
ResponderEliminarObrigado. Espero que volte sempre.
Um texto de ecos torguianos, um olhar a terra de frente e inteira. Por issi, só por isso nunca é tarde.
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