quarta-feira, 19 de maio de 2010

TALVEZ NÃO SEJA TARDE

.Van Gogh - Paisagem da Colheita
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A tarde estava a chegar ao fim. Os grilos faziam ouvir a sua sinfonia, impregnando de louvores as teias dum tempo sem ontem nem amanhã. Uma borboleta esvoaçava no meio dos malmequeres, enquanto mil aromas impregnavam o ar. Ali perto, dois melros bebericavam na água fresca do riacho, saciando a sede depois de um dia de intenso labor...
A quietude insinuava-se, adoçando visões e impressões menos agradáveis doutro mundo, mais complexo e elaborado, mas muito menos harmonioso. Ali estava ele, bicho-homem, perante o mais óbvio da Natureza, como se aquela verdade tivesse caído no esquecimento colectivo. O rumo tinha-se perdido algures, já quase ninguém sabia onde, e até Diógenes tinha sido engolido pelas trevas.
A tranquilidade do local serenava-o. Talvez ainda não fosse tarde. Talvez os reféns dum sistema caduco, perante a iminência da catástrofe, se soltassem das amarras e começassem a olhar em volta. E, principalmente, para dentro de si próprios. Talvez...
Quando regressava, ainda em conflito de ideias, passou por uma série de eólicas. Mais abaixo, no fundo do vale, a azáfama de fim de dia numa quinta fazia-se sentir nas redondezas.
Talvez ainda não seja tarde.
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28 comentários:

  1. "Talvez ainda não seja tarde"

    O regresso às origens como fuga a um mundo que de tão imenso e complexo não somos capazes de assimilar.

    Belo texto!

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  2. Pois é, amigo, já te conheço o suficiente para perceber onde queres chegar. As tuas palavras são claras e simples, mas nem sempre o sentido é o mais óbvio. Gostei muito do texto.
    Abraço

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  3. QUERO ACREDITAR QUE SIM...QUE O BICHAROCO HOMEM NÃO SE VAI DEIXAR APRISIONAR NAS AMARRAS DO CADUCO...DO VÁCUO,DO CONFLITO...E FINALMENTE ENCONTRAR UMA FÓRMULA MÁGICA PARA TENTAR SER O MELHOR DOS ANIMAIS...(OU NÃO FOSSE ELE RACIONAL)

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  4. AC,
    consegui visualizar o quadro descrito, com a sinestesia, os cheiros e os sons.
    espero que ainda não seja tarde...
    ah e adoro Van Gogh!
    Beijinho e boa noite.

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  5. Lídia Borges,
    Obrigado. O percurso do homem em busca do seu destino é inevitável e desejável, mas creio que só teria a ganhar se olhasse mais para a harmonia daquilo que o rodeia (ou daquilo que resta).

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  6. Jorge,
    Ainda bem que gostaste, alentejano.
    Um abraço.

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  7. Pedrasnuas,
    O bicho-homem está a ficar encurralado nas más opções que tem tido e já não tem margem de manobra. Ou arrepia caminho ou vai tudo ao ar.

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  8. Em@,
    Ainda bem que gostou.
    Acredito que ainda não é tarde, mas depende muito do nosso envolvimento.

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  9. Pois...talvez...Assim houvesse vontade.
    Há quem diga que nunca é tarde para mudar; mas a mudança necessária teria que ser radical.
    Alguém está interessado nisso? - pergunta a minha curiosidade.

    Até sempre. Beijinhos

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  10. Gostei do texto. Gostei muito da mensagem. Mas estou zangado com a vida e com o Mundo. Estou com vontade de estrangular a generalidade da classe política. Por isso peço desculpa por este comentário.
    Apenas digo que vale a pena salvar o que é possível da Natureza ainda existente.
    Abraço

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  11. Mariazita,
    As coisas estão a ficar de tal maneira que a questão já não é saber se alguém está interessado, somos todos obrigados a estar interessados. Quem se pode alhear destas questões? Creio que ninguém.

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  12. Zé Caldeira,
    Compreendo o teu estado de revolta perante aquilo que está a acontecer. Mas há que preservar a lucidez, pois é previsível a chegada da irracionalidade nos próximos tempos. Vai ser uma prova difícil, com mudanças substanciais no tecido social, mas não podemos perder a esperança. Apesar dos políticos que temos.

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  13. Obrigado amigo!
    Aquilo foi um desabafo a quente. Tens razão. É nestas alturas que a lucidez faz de nós alguém de confiança perante os outros. Hoje estou melhor. Digeri algumas mágoas e sinto que vale a pena lutar por dias melhores. Não, especialmente, para nós, mas para os nossos filhos e netos. Quero acreditar, como tu, "que talvez não seja tarde".
    Um abraço amigo
    Caldeira

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  14. Um blogue a revisitar. Obrigada pelo prazer da leitura da sua escrita.

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  15. Poesia Portuguesa,
    Eu é que agradeço. Já fui espreitar o seu blogue e fiquei agradavelmente surpreendido, ainda por cima com a publicação dum poema meu.
    Volte sempre.

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  16. Temos que nos agarrar à esperança do talvez e à oração do oxalá .

    E que o bicho homem que faz parte , neste planeta azul , de um colectivo (tudo que vive ) comece , de facto , a ser o chamado pensante, e tente respeitar e salvar o que ainda resta da natureza .
    Porque esta terá forças para se reerguer , nós ... ... oxalá.

    Um beijo ,
    Maria

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  17. Lilazdavioleta,
    Gostei da lucidez tranquila do comentário.
    Como diz, oxalá!

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  18. Gostei do texto, como seria bom olharmos em volta e ver todo o encanto e harmonia que a natureza nos oferece de mão beijada.
    Bom fim de semana

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  19. Lilá(s),
    Se olhássemos mais para o que nos rodeia, talvez tomássemos decisões mais equilibradas. Mas, infelizmente, parece que muitos de nós já perderam, algures, essa capacidade.

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  20. Nunca é tarde para mudar de rumo, o problema está em encontrar o rumo certo!

    Abraço

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  21. TALVEZ NÃO SEJA TARDE VIR CÁ DIZER QUE GOSTEI DAS TUAS MENSAGENS...

    BOM FIM DE SEMANA

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  22. Paisagem em prosa ao jeito de um entardecer que se quer (re)descobrir em novos amanheceres, “adoçando visões e impressões” mais agradáveis a este mundo. Sinfonias, aromas, cores, vida… Natureza em força apelando vivamente à força humana que a (se) salve, bebendo no riacho da credibilidade da mudança. "Talvez não seja tarde" para acreditar que nos voos firmes do entardecer renascem os de cada amanhecer.

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  23. Parabéns pelos textos e poemas que li! Foi um prazer descobrir este espaço !

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  24. Rosa dos Ventos,
    Muitas vezes encontrar o rumo certo pode ser o trabalho de uma vida.

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  25. JB,
    Comentário pleno de harmonia e convicção...
    Talvez!

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  26. Ana,
    Obrigado. Espero que volte sempre.

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  27. Um texto de ecos torguianos, um olhar a terra de frente e inteira. Por issi, só por isso nunca é tarde.

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