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AC, Carícia
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Sempre assim foi, tudo leva a crer que sempre assim será. Pelo menos até rebentarmos com este maravilhoso planeta, verdadeiro paraíso para quem gosta de sonhar, de se projectar, e que, apesar da incompreensão, continua a resistir ao nosso mau feitio, ou seja, à nossa incompetência. Mas poucos querem saber. Adiante.
Numa suposta douta sabedoria, baseada em egocentrismo, gostamos de nos prover de confortos vários, renovados a cada passo. E, para garantirmos o estatuto, educamos os nossos filhos para serem empreendedores, inventores, opinadores, gestores, confessores, professores e outras cores, que na maioria das vezes rimam com dores e, uma vez por outra, com amores. Mas, renunciando às memórias, teimamos na mesma receita, sempre a mesma, aceitando de peito feito que o mundo está talhado apenas para os melhores. Predadores, está bom de ver. A outras visões, por inconvenientes, aplica-se o bullying social.
Em pausa lectiva - sou professor, entenda-se - de repente sou confrontado com uma disponibilidade de tempo pouco habitual. Que fazer com tal ventura? Em lista de espera há livros, viagens, reencontros com amigos, burocracias várias. Pouco tempo para uma agenda tão ambiciosa. Por entre inadiáveis compromissos burocráticos, festejos e encontros familiares, que requerem muito estômago, um ou outro livro lá conseguiu subir à tona, em leitura aconchegada pela lareira, mas algo fazia falta. Lá fora o espaço piscava o olho, requerendo atenção: as sebes, obedecendo a leis naturais, tinham crescido; uma ou outra árvore ainda não tinha sido podada; alguns canteiros estavam a precisar de transplante de rosmaninhos; a terra precisava de ser cavada para a sementeira das ervilhas...
Um novo ano, a ganhar coragem no empolgar do estribilho, a necessidade de sempre de cuidar do que me rodeia. Havia, pois, que pegar nas ferramentas e, com delicadeza, prezar pela harmonia envolvente.
As sebes, apesar de atrevidas, podem esperar, que o cabelo não lhes vai para os olhos, mas a terra, ancestral ligação, requeria urgente atenção. E cavei, alisei, semeei, desencantando sorrisos muito próprios. Ela, a terra, não tem culpa que, em vésperas de regressar à escola, me doa o corpinho todo, pois andar horas e horas a plantar ervilhas de duas qualidades, sem pausas, não abona muito a meu favor. Mas só em princípio, porque a satisfação de andar por ali, em comunhão com a terra, por mais ores que suscitem, ninguém me a pode tirar. E, por mais que protestem as costas, continuo a sorrir.
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Em pausa lectiva - sou professor, entenda-se - de repente sou confrontado com uma disponibilidade de tempo pouco habitual. Que fazer com tal ventura? Em lista de espera há livros, viagens, reencontros com amigos, burocracias várias. Pouco tempo para uma agenda tão ambiciosa. Por entre inadiáveis compromissos burocráticos, festejos e encontros familiares, que requerem muito estômago, um ou outro livro lá conseguiu subir à tona, em leitura aconchegada pela lareira, mas algo fazia falta. Lá fora o espaço piscava o olho, requerendo atenção: as sebes, obedecendo a leis naturais, tinham crescido; uma ou outra árvore ainda não tinha sido podada; alguns canteiros estavam a precisar de transplante de rosmaninhos; a terra precisava de ser cavada para a sementeira das ervilhas...
Um novo ano, a ganhar coragem no empolgar do estribilho, a necessidade de sempre de cuidar do que me rodeia. Havia, pois, que pegar nas ferramentas e, com delicadeza, prezar pela harmonia envolvente.
As sebes, apesar de atrevidas, podem esperar, que o cabelo não lhes vai para os olhos, mas a terra, ancestral ligação, requeria urgente atenção. E cavei, alisei, semeei, desencantando sorrisos muito próprios. Ela, a terra, não tem culpa que, em vésperas de regressar à escola, me doa o corpinho todo, pois andar horas e horas a plantar ervilhas de duas qualidades, sem pausas, não abona muito a meu favor. Mas só em princípio, porque a satisfação de andar por ali, em comunhão com a terra, por mais ores que suscitem, ninguém me a pode tirar. E, por mais que protestem as costas, continuo a sorrir.
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Ainda há dias falava com alguém e dizia que há anos não se vêm por estas bandas citadinas ervilhas ainda na vagem. Recordações de infância... sentada na cozinha com a minha mãe a abrir as vagens e recolher as pequenas bolinhas verdes.
ResponderEliminarQuando as tiveres, manda um saco delas (por ele transporte ou assim...)!
:)
"teletransporte"
EliminarHá vários anos, quando cuidava do meu jardim, sempre me interrogava quanto ao que passará pela cabeça dos que conscientemente destroem a Terra. Seu belo texto me fez voltar às antigas reflexões...
ResponderEliminarUm abraço, tenha uma ótima semana!
Li-o e cheirou-me a terra cavada, mais ainda aqueles rolos que deixavam as charruas e os miúdos a rir em bando corriam por elas a desboroarem-se a seus pés. Caramba, o Senhor tem essa coisa, de me levar à infância feliz que tive. Muito e muito obrigada :-)
ResponderEliminarPS: Eu? Eu usava soquete branco e a mãe não achava graça a que as fizesse mudar de cor, mas, prevariquei uma quantas vezes, pois... o pau (mão) me achava, mas já não me tiravam aquele gosto, aquela alegria :-))
Boa noite
Sou da velha guarda, daqueles que ainda respeitam a terra, os solos.
ResponderEliminarAquele abraço, Bom Ano!
Tivesse eu um cantinho de terra e duas qualidades de ervilha seria uma excelente ideia...
ResponderEliminarPor essa razão... mesmo vivendo em apartamento... tenho de ter sempre plantas naturais em casa... é a ligação possível, no meu caso... :-)
ResponderEliminarBelíssimo texto, AC... como sempre!
Feliz semana! Bom Ano! Beijinho
Ana
Bom trabalho
ResponderEliminarPor cá medram alhos favas
e montes de urtigas
Abraço
Este é um texto em modo lufada de ar fresco, com cheiro a terra molhada logo após um dia daqueles bem escaldantes que é quando a terra nos brinda com um perfume demasiado caro para simples mortais que somos todos nós. Também eu gosto muito dessa 'inquebrável ligação à terra', é ela que nos impede, de algum modo, de levantar demasiado o nariz, eu cá vou tentando aprender a lição...
ResponderEliminarÉ um gosto ler o que escreve, AC. Aceite um beijinho e um Bom Ano :)
Esse apelo da terra, não vem só dela, A.C. está-te também no sangue...Sorri contigo, porque sou também um pouco assim, como tu, embora já o tenha sido mais. Depois do enfarte...por vezes finjo não ouvir o apelos do jardim. Mas, quando podia, trabalhava sem paragem, para não arrefecer...Depois, enchia o peito de ar e olhava em volta, orgulhosa daquilo que havia feito...
ResponderEliminarErvilhas nunca semeei, mas semeei muito feijão-verde.:)
Um beijinho, com cheiro a terra arada e molhada. :)
Recebeste o meu comentário, AC?
ResponderEliminarPergunto porque andam a extraviar-se e, nos comentários moderados, não consigo ter certeza. Se acaso o não tens, podes, pf, ir ver na tua caixa de spam?
Estava, realmente, no spam. Obrigado, Janita.
Eliminar:)
ResponderEliminarA sorrir com os pés na terra :)! Um beijinho.
ResponderEliminara vida urge por existir e ser servida...e nós na rede da vida precisamos muito servi-la para existir.
ResponderEliminarum abraço
Viver a vida é o melhor que a vida nos dá.
ResponderEliminar.
Tema: * O Silêncio da Luzência em noite escura *
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Continuação de um feliz Ano Novo
Boa tarde.
A imagem que mostraste, as palavras que constaste trouxeram-me muitas recordações. Lembro-me de cirandar de volta dele enquanto ele andava de volta da terra que adorava. Passou-me esse gosto :)
ResponderEliminarAC, essas "ores" valem a pena, feliz 2018.
Somos seres terrenos sem amor à terra.
ResponderEliminarUm feliz ano novo com muita poesia e amor.
Abraço.
Um Ano Novo repleto de saúde, realizações e felicidade.
ResponderEliminarExcelente para nós e para a humanidade.
~~~
a pausa bem aproveitada
ResponderEliminare a terra agradece
bela crónica
beijinhos
:)
Poeta , suas palavras acariciam quem as lê , tal qual você faz à terra . Adorei seu texto . Aproveito para lhe agradecer e retribuir os votos de ano novo feliz . Beijos
ResponderEliminar"Predadores está bom de ver."
ResponderEliminarEsta realidade dói. E cavar um pouco de harmonia, será o nosso melhor contributo.
Gostei imenso, AC.
Beijinho.
Tão bela ligação com a Natureza, a nossa
ResponderEliminarmãe terra e tão judiada pelos filhos
humanos. Ainda bem valorizada na
tua narrativa poética, AC.
Sempre um caminho poético com
coração de elo à Terra e isso é
maravilhoso!
Bjs.
Gostei da crónica, do sabor de saber de horta, de Jardim... e de ver o resultado, depois, da aritmética elementar seguir o seu curso natural: somar, multiplicar, diminuir e dividir. As horas, do tempo que se não tem. Tempo que vai e não volta. Mas a gente percebe-lhe as voltas.
ResponderEliminarDum dente faz-se uma cabeça!
Abraço.