sábado, 27 de janeiro de 2018

A POUPA

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AC, Poupa: focada no alimento, desfocada na imagem
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É laboriosa, quase pontual, isto na perspectiva de quem observa. Depois de se instalar debica constantemente, em movimentos sincopados, conseguindo encontrar alimento onde mais ninguém o vê. Mas, para lá de tudo o mais, é esquiva, como que sentindo que a proximidade dos humanos não augura nada de bom. 
Resisto à tentação de lhe pôr um nome, isso seria sinónimo de propriedade. Que não é o caso. A poupa que frequenta o território, supostamente meu, não é de ninguém, ela tece o seu próprio destino. Quanto muito partilha o mesmo espaço, supremo privilégio, deixando dádivas que eu agradeço profundamente. É que a partilha tem a duração dum pequeno-almoço, tão só, daí esta refeição ter tendência a ser saboreada sem qualquer pressa, como se de um sagrado ritual se tratasse.
Nada sei da azáfama da poupa enquanto estou ausente, mas às vezes, quando regresso, ela ainda anda por aqui. Com o tempo, após várias tentativas, ela deixa-me aproximar, mas pouco. O voo, para longe, é o resultado mais provável. E então resguardo-me, na esperança de que a poupa regresse, mas não. Só no dia seguinte, bem cedo, ela retoma a sua azáfama de debicar, debicar constantemente, albergando alimento como se tivesse um rancho de filhotes à sua espera.
A poupinha, como aqui é tratada, à distância, tem o condão de dar vida às primeiras cores da manhã. Embora esquiva, como convém, ela já faz parte da saudável rotina familiar.
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25 comentários:

  1. Que lindo de se ver, amei, que bom que compartilhastes!
    Sabe, eu amo a natureza, os animais livres e sentir isso neles, liberdade que nem todos podem ter!
    Gostei de conhecer a Poupa!
    Abraços apertados!

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  2. A Poupa é uma ave super bonita. E encontrar um ninho de poupa? Será que alguém consegue?
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    * Doce paisagem do teu sorriso, qual azul do Mar *
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    Deixando votos de um fim de semana muito feliz
    Boa tarde

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  3. São aves muito esquivas e desconfiadas:))) mas conheço um grande quintal, cujos donos puseram nas árvores "casas de cortiça e madeira". Como eles dizem com graça...são para os pássaros sem abrigo:)) É um regalo vê-los ao entardecer e muitos partilham o mesmo alojamento:) Completamente livres e pena é que os humanos não se saibam libertar do negativismo diário e lamentarem-se por dá cá aquela palha.

    Beijocas e um bom sábado

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  4. Bonita e enternecedora crónica do quotidiano de quem vive em contacto com a natureza. Aqueles que vivem nos centros urbanos jamais se poderão deleitar com a visão, matinal, de uma ave, que escolheu lugar certo, para debicar o pequeno-almoço dos filhotes. Sorte a tua, AC. :)
    Não querendo a posse da poupa, baptizando-a com nome próprio, no fundo já a adoptaste, pois deste-lhe um diminutivo...Gostei.:)

    Um abraço e bom fim-de-semana.

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  5. São uma delícia, estes seus relatos, e quase sempre, me levam, lá atrás, aquela idade em que o mundo é nosso. Sim, nosso, meu, seu, e das poupas, e das andorinhas, e de toda a bicharada, e é engraçado, cabíamos todos nele, sem atropelos.


    Bom fim de semana AC

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  6. Adorei essa foto e tuas palavras...Lindo de se ver! beijos, chica

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  7. AC, que maravilha, não me ocorre mais nada. A forma aparentemente simples como escreve, é qualquer coisa. Gosto muito. aliás, muito mais do que muito.

    Aceite um beijinho e tenha um bom fim-de-semana, sempre com a 'poupinha' debaixo de olho :)

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  8. Não acho que dar nome seja indício de que consideramos alguma coisa como nossa propriedade. Está mais para familiaridade rsrsrsss...
    Mas conto um fato curioso: quando colonizadores começaram a explorar o interior do Brasil, notaram que era facílimo caçar aves e mamíferos porque os animais "da terra" pareciam não ter medo dos humanos e não fugiam à sua aproximação. Logo o engano se desfez e tudo quanto é ser vivo passou a guardar respeitável distância de quem portava armas de fogo. Hoje, até para fazer uma foto, é preciso muita paciência, se queremos uma aproximação que não seja notada, com o propósito de uma imagem perfeita. Que se há de fazer?

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  9. Adorava saber identificar aves!
    A sério!!!
    Dos milhares de espécies de aves que existem sei identificar o quê?
    Gaivotas, avestruzes, pardais, pavões, tocamos, pelicanos, cegonhas, garças, galinhas, perus, bufos, águias, mochos, falcões, piriquitos, canários, catatuas, papagaios, araras, pica-paus, corvos, melros, flamingos,... e pouco mais!
    ...
    Não identificaria uma poupa!
    E tenho pena!

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    Respostas
    1. Sou mesmo uma croma da cidade... 🙄
      Um destes dias, no Alentejo (um Alentejo semi-profundo) avistei um falcão. Com aquele ar inquieto de quem está sempre alerta... quase parei o carro no meio da estrada para o observar. Um olho no retrovisor, outro encantada a observá-lo. Fascinam-me estes encontros inesperados com a fauna autotene, seja de que família for.... Dos escaravelhos, aos veados.
      :)

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  10. Como eu invejo essa poupa...! Bom domingo AC.

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  11. É sempre um deleite, ler as tuas crónicas ! Descreves como ninguém, ou,...muito poucos !

    Uma ave linda, irrequieta, de movimentos rápidos, que não nos dá nunca oportunidade de uma aproximação ! Resta-nos apreciá-la de longe !
    Junto a minha casa é mais normal ver rolas, com o seu "lacinho" à volta do pescoço, ou no chão, procurando algo para comer, ou então, nos fios eléctricos, lá no alto, vendo o que se passa à sua volta ! :)

    Abraço e bom domingo

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  12. hello, i'm new follower of your blog, can you follow mine?
    https://amoriemeraviglie.blogspot.it/

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  13. Uma descrição fantástica, quase cúmplice com a poupa que "tece o seu próprio destino"... Pude vê-la daqui, donde escrevo, já que ela também não me deixaria chegar perto.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  14. Invejo o mundo delas, das aves, todas. Livres povoam a nossa vida, quantas vezes apenas o nosso imaginário, de beleza.
    Deus - para os crentes - não teria encontrado a perfeição, em estado puro, nesses seres magnifícos?
    Boa semana.

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  15. Mais um belo retrato da Liberdade
    Abraço

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  16. Mais uma habitante, desse seu mundo tão especial, e privilegiado, AC... assim tão próximo da Natureza...
    E mais uma belíssima partilha... em palavras e imagens, AC... que me encantou!...
    Beijinho! Feliz semana!
    Ana

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  17. Uma presença que alegra sempre os dias.
    Os passarinhos que nidificaram na minha varanda desapareceram :(
    Aquele abraço, boa semana

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  18. Oi,A.C..só poetas podem ter amigas passarinhas e que voam e voltam.
    Lindo texto poético!
    Um abraço

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  19. Essa poupa já faz parte das vossas rotinas e se um dia ela for dar uma volta maior e não aparecer vocês vão estranhar. É um apego quase sem querer. Existe uma aqui no meu quintal, todos os anos cá vem e julgo ser a mesma. Estou à espera dela :) Abraço AC

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  20. Que beleza, sua poética descrição... me fez sentir estar ali, como que a ver de pertinho, essa ave tão linda, no convívio dos teus dias...
    Hoje venho te visitar com meu Doce Filosofia, matando as saudades dos amigos queridos.
    Beijos,
    Valéria

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  21. A poupinha e o texto tão cúmplice numa rotina tão desejada!

    Beijinho AC

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  22. O agradável ato de ler seus textos hoje assume a feição de ensinamento. Acredite, não sabia o que seria uma Poupa! (Geralmente, leio primeiro o texto, depois vou em busca da imagem.)Eu,que amo os pássaros, e que frequentemente interrompo meus afazeres para correr ao quintal e observar o pequeno cantor que pousa na mangueira do vizinho ou nos meus hibiscos, tornei-me aprendiz e acrescento a sua poupinha aos pequenos de que tanto gosto. Abraços.

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  23. Tão raro observá-la! Terá as suas preferências. É, assim, um privilégio vê-la debicar no teu poema! O teu mundo é pleno de interioridades e sensibilidades, AC!

    Beijinho.

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