quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

A HORA DOS PEQUENOS MILAGRES

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AC, Árvore dos pequenos milagres
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As manhãs têm acordado tingidas de branco, com a geada a tricotar complexas geometrias a que poucos dão atenção, tolhidos pelo frio. Mas o sol logo se levanta, dominador, avesso a alvas arquitecturas. Aos poucos a passarada começa a fazer-se notar, ensaiando os primeiros gorjeios duma eterna sinfonia.
Começa a desenhar-se o ritmo cadenciado da enxada, insaciável na vontade de cavar fundo. Surge uma cova, duas, cinco, oito..., a quem sopro palavras cerimoniosas que mais ninguém ouve. Irão ser portal de entrada para novos seres, ávidos de estreitar laços com a grande mãe, e toda a harmonia é necessária. É então que entram em cena as árvores em fase imberbe: amendoeiras, nogueiras, marmeleiros, macieiras e limoeiros, todas ávidas de entrar em sintonia com a filosofia da Grande Arquitectura.
A tarefa, bem condimentada de estrume, vai-se cumprindo num aparente alheamento do tempo, imune a qualquer bramido do mundo dos homens. As pausas surgem, com naturalidade, com a vista, em estreito contacto com a alma, a alternar poiso entre o arvoredo da Gardunha e a grandeza granítica da Estrela. Lá no alto, sem pressas, uma ou outra ave de rapina vai planando, à espera dum qualquer sinal.
A luz começa a esvair-se, o corpo começa a pedir aconchego. Mas, antes, um eterno assomo alquímico, em que os deuses parecem mostrar uma ínfima ponta do véu, ainda que por breves instantes, de algo que nos transcende: o Sol, num último gesto acariciador, parece vestir-se dum enorme manto mágico que tinge o céu, estendendo a passadeira à Lua com um enorme piscar de olho. É a hora dos pequenos milagres.
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27 comentários:

  1. Não sendo a audição o meu sentido mais apurado, ia jurar ter ouvido algumas dessas palavras, quase místicas, que sopraste a esses novos seres que, hoje, entraram, pela tua mão e esforço, no seio da Mãe Natura que tudo gera e cria.
    Tão bom ler, e ver, com os olhos da alma, a vida, de forma linda e poética como só tu sabes descrever...

    Um beijinho, AC. :)

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  2. Renascer, toda a poesia num só verbo.

    Passar por cá, faz bem.

    Lídia

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  3. Magia aliada à beleza foi o que senti aqui. LINDO! abração,chica

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  4. Se o Sol é meu amigo
    não admira
    que ele esteja assim contigo

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  5. Parece que era eu que estava lá a ver toda aquela luz, toda aquela paisagem fantástica. Um abraço AC

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  6. Gosto, gosto muito de ler quem pinta escrevendo. O senhor é um desses.

    É bom, e gosto, de senti-lo por cá.
    Boa noite :)

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  7. Como gostava de ter uma árvore assim para mim ;)
    Muito bonita esta partilha, AC.
    Beijinho e votos de Bom Ano.

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  8. A imagem já transmitia tranquilidade.
    Que o texto confirma e acentua.
    Aquele abraço

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  9. Depois dessa zorra toda, com mísseis cruzando os céus, como presente de Natal, 'Chefes de Estado' colocando a estabilidade mundial em pânico, é bom demais ler um texto poético, exaltando a natureza! Uma pausa para não enlouquecermos.
    Muito lindo.
    beijinho.

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  10. Invejo essa bem-aventurança de cultivar e ver crescer o que se plantou. Já não tenho tempo como gostaria para isso.
    Um grande abraço!

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  11. A hora dos mágicos cansaços de que falava Florbela. Aqui com uma árvore em primeiro plano para celebrar a paisagem. Um texto maravilhoso.
    Um beijo.

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  12. O poeta encontra sempre a beleza da natureza no mais profundo do seu ser e constrói com palavras a joia do pequeno milagre.Parabéns!
    Um abraço

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  13. A desenhar palavras de corpo inteiro
    aqui para os amanhãs se continua a plantar árvores
    para encanto dos que lêem
    Abraço

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  14. Poeta , é muita beleza junta !
    Que seu novo ano seja tão bonito e delicado como este texto que chega a emocionar .
    Obrigada pela generosa partilha .
    Beijos

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  15. A tua paisagem e a vida que dela se extrai provoca prazer bucólico e estético.

    Beijos.

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  16. Tenho algumas arvores de fruto aqui na nova casa.
    algumas plantadas pelos miudos.
    Mas confesso que não lhes dou muita atenção... (Sacrilégio - dirá o AC!)
    Mas estou a tentar cultivar as minhas malaguetas, estou com 22 pés bem pegados, e a fazer tudo para que vinguem! Hei-de fazer uma divisão de canteiros com arbusto de malagueta.
    E depois...
    E deixar-me encantar pelas cores com que o sol pinta o céu - dessas nunca me canso!

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  17. Que este novo ano seja uma porta aberta para novos sonhos, renovações de fé e muita paz para nós e para o mundo. Feliz 2020!💋

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  18. Que os pequenos milagres continuem a te inspirar a escrever cada vez mais para podermos te ler no seu melhor. Um abraço AC.

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  19. Ao ler-te embalada pela melodia de cada momento fiquei com uma paz interior que nem imaginas. Não consigo dizer mais nada.

    Beijos e um bom dia

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  20. Um pequeno milagre é o sentimento harmonioso que nos enche o peito com a leitura deste texto.
    Abraço e bom fim de semana

    R: Os meus olhos não melhoram sem o transplante que espero desde Setembro.

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  21. É um prazer saborear os seus textos, AC.
    Transbordam uma poesia telúrica matizada de cores e saberes bucólicos -- que sempre me sensibilizam -- expressos numa correcção que muito honra a Língua Portuguesa.
    Também aprecio e emociono-me com a «hora dos pequenos milagres.»
    Beijinho
    ~~~~

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  22. "É a hora dos pequenos milagres" que a mão fecunda de AC opera nestes textos primordiais.
    Um ciclo completo da aurora ao crepúsculo poente que se fez e faz na/para harmonia das coisas realmente belas. Realmente essenciais. E que mais é preciso? Nada.
    Abraço amigo ao Amigo (des)conhecido que retemperou o aço de que é feito e voltou. Muito me alegra este regresso. Um bom sinal para ano do par de cisnes com bóia, à cautela. Tudo de bom.

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  23. Que bonito!
    E que pode haver de melhor que a comunhão com a natureza?
    Adorei ler!
    beijinho

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  24. Um texto adorável... que nos faz sentir mesmo por lá... respirando os ares do campo... e também assistindo, a tão especial momento!...
    Que bom tê-lo de volta, AC... e ao encanto que as suas palavras sempre nos oferecem... sugerindo momentos tão especiais quanto este... desfrutando-se as maravilhas da natureza...
    Beijinho! Feliz semana!
    Ana

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  25. Meu caro Agostinho! Que saudades eu tenho de te encontrar, pessoalmente, e até por aqui. Não sei o que me deu que já passaram anos sem eu passar por esta sala de aula onde aprendo muitas coisas e me sinto feliz.
    Voltei a este espaço, o teu e o meu, porque me deu vontade de deixar memórias, vivências. Verifique, com muito agrado, que também passaste pelo meu quintal. Devias ter entrado em casa porque a casa dos amigos estão sempre escancaradas.
    Grande abraço meu amigo.

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  26. Eu sinto esse apelo do campo...assim este texto, pleno de sensibilidade cativou-me.

    Beijo

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