terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DIÁRIO - 14

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Imagem retirada daqui
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Aproveito uma pequena pausa da chuva e deambulo, lentamente, pela zona onde estão plantadas as ervilhas, espreitando sinais de algum crescimento. Sorrio com o que vejo. Aconchego a terra nalguns pontos, a recompor o que a água desfez, e remiro a geometria recomposta. 
De súbito, lá de longe, chega-me o badalar do sino duma qualquer aldeia, pausado e triste, inequívoco som do dobrar a finados. E, tal o efeito da herança cultural, afloram-me, espontâneamente, alguns laivos de contrição, qual convite à meditação sobre a vida e a morte.
A chuva regressa, embora timidamente. Enquanto me dirijo para casa, não deixo de cogitar: numa zona do país - o interior - em constante desertificação, onde ocorrem, claramente, mais óbitos que nascimentos, não seria de bom tom os sinos repicarem, de alegria, cada vez que uma criança nascesse, qual eterno hino à esperança?
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13 comentários:

  1. Muito linda a foto e deu pra imaginar o som do sino tocando! Abraços,chica

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  2. O melhor é não pensar na vida e/ou na morte e apreciar alegremente o crescer das ervilhas, lol
    Bela foto.
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    Saudação amiga
    Cuide-se
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  3. Boa tarde. A foto ficou maravilhoso e deu aquela vontade de ir nesse lugar maravilhoso.

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  4. Ah, AC...agora fizeste com que as lágrimas me viessem aos olhos!
    Num mundo cada vez mais cheio de pessoas cheias de pressa de chegar a lado nenhum, num atropelo sem sentido, ler alguém que medita e escreve, com a ternura posta na alma, é tão, mas tão gratificante...
    Bem-hajas!

    Um grande abraço, AC.

    Janita

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  5. Sim se repicam pela morte deveriam repicar em dobro pelo nascimento de zonas tão envelhecidas.
    Por aqui nascem imensas crianças e acho que os sinos não parariam:)

    Abraço e uma boa noite

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  6. AC...desculpa, não consigo novamente comentar com a minha conta.

    Janita

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  7. Esses repicar dos sinos sempre me encanitou.
    Aquele abraço

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  8. Ontem no meu poema, Cansaço, eu lembrei da gente do interior, maioritariamente idosa. Num mundo onde cada vez mais é um salve-se quem puder, em que o ter roubou o lugar do Ser, são os idosos, especialmente os do interior aqueles que mais sofrem.
    Como quase sempre o seu texto emocionou-me
    Abraço e saúde

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  9. Sim, o nosso interior não consegue oferecer oportunidades de vida. Por outro lado, quem tem oportunidade de pelo menos passar alguns dias do ano nestes locais, sabe a qualidade de vida que lhe é oferecida (mas não é isso que paga as contas, infelizmente)

    Quanto aos "sinos", há a notificação da partida, mas não do nascimento, talvez pelos factos históricos/usos e costumes que a tal deram origem num passado sem tecnologias...

    Mas, sim, concordo que a vida merece ser celebrada.

    Abraço e parabéns pela qualidade do texto

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  10. Um lindo texto poético ao som dos sinos que escutei daqui...diante de uma imagem que remonta à memória ancestral.
    Um abraço

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  11. Acho que essa tradição relacionada aos sinos vem de um tempo em que a morte era muito mais presente no quotidiano do que é hoje. Basta lembrar a quanto andava a mortalidade infantil ou a expectativa de vida no Medievo. Não estamos mais acostumados a isso, e fomos pegos de surpresa pela pandemia, colocando-nos diante de questões para as quais não temos resposta. Sim, seria bom ouvir o toque dos sinos em momentos de alegria, como os nascimentos. Seria um toque de esperança, talvez.

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  12. Sempre que ouço sinos, o que é raro nas grandes cidades, eu me volto para a vida no interior e por esse significado triste, de despedida. Seu texto poético me sensibilizou e me encantou. Abraço.

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  13. Bom dia, vim avisar que acaba de entrar teu céu por lá! Obrigadão! abraços, chica
    https://ceuepalavras.blogspot.com/2021/02/blog-post_22.html

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