sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

DIÁRIO - 17

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Após uma surtida lá por fora, para avaliação do terreno - a ficar densamente ervado, e com as árvores, principalmente as de folha caduca, em aparente apatia - regresso a casa com um esboço mental das próximas lidas a desenvolver. Sento-me à frente do computador, anoto tudo, com os apetrechos necessários para um bom desiderato, e dou uma volta pelos jornais on-line.
Percorro as páginas, na diagonal, pois tudo me parece mais do mesmo: pandemia, pandemia, pandemia... Bem sei que é preciso alertar, até porque, apesar da gravidade da situação, há gente que continua de ouvidos moucos, mas há que dar corpo a uma nova forma de estar na comunicação social, com a televisão em primeiro plano. Informar, sim, e sempre com transparência, mas procurar, em simultâneo, trazer à liça novas formas de estar, novas formas de olhar. Os problemas existem, são mais que muitos - a fome, o desemprego e outras maleitas não se devem esconder, já para não falar de outros que, com este surto, ficaram para segundo plano - mas para quê viver apenas disso, insistindo na cultura da desgraça? Por onde anda a objectividade e a seriedade do, até há pouco tempo, chamado 4.º poder? Eu tenho uma ideia acerca disso, mas hoje fico-me por aqui.
Ligo a máquina de café, sirvo-me e vou de novo lá para fora. Não vejo o gato. Deve andar à caça de algum rato campestre, operação que se quer silenciosa, e levanto os olhos para a Gardunha. Nuvens brancas povoam a encosta, ocultando os cerejais e os castinçais, mas deixando ver o recorte do cume num azul tímido, como que a prever mudança de cenário no horizonte. E, de facto, nuvens negras se aproximam, do lado oeste, empurradas pelo vento atlântico.
A pausa reconforta-me quanto baste. Regresso a casa, com um último olhar para as ervilhas, que continuam a prometer, e vejo um vídeo do Miguel, entretanto chegado, que me enche a alma, ao mesmo tempo que me desperta permanente interrogação: como é que um ser tão pequenino pode mexer connosco de uma forma tão intensa, suscitando pensamentos tão elevados? 
Sento-me de novo ao computador, ainda em modo incerto no que se segue, para tentar debitar mais umas palavras para o pretenso diário, a manter, até mais ver, até ao final do mês. Depois logo se vê, que há coisas que não que querem forçadas.
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9 comentários:

  1. Então também aí os jornais (de papel ou virtuais) só têm o mesmo assunto? Pandemia, vacinação, novas linhagens virais, próxima faixa etária a receber vacina, e por aí vai. Aqui está assim, além das notícias da política e da economia, que, como a humanidade, vai mal por causa da pan-de-mia. Ah, falei nela novamente...
    Tenha um ótimo final de semana, com todo o cuidado. O Covid ainda não esqueceu de nós.

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  2. Eu gosto, para lá de bué, deste seu diário, é uma lufada de ar fresco ao cair da tarde. Bigaduuu :-)

    Boa tarde, sô AC

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  3. Faço minhas as palavras da noname. É um prazer imenso ler o seu diário, AC. Obrigada! :)

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  4. E eu assino por baixo as duas comentadoras anteriores. E quase não vejo TV.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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  5. E sempre um prazer inteirar-me dos teus passos, adentrando por esta tua narrativa diária. Vou sentir-lhe a falta. Melhor é ir aproveitando enquanto há... :))

    Um beijinho, AC.

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  6. Confrange ouvir noticiários que se repetem
    a promoverem os medos.
    Abraço

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  7. Concordo com você. As notícias abordam um único tema, como se outros não existissem. Alertar é uma coisa, mostrar fatos que podem nos levar às lágrimas, é outra. Eu me sensibilizo com a as perdas, com a falta de oxigênio, com os prejuízos para a economia... mas isso não precisa ser destacado a todo momento. Crianças trazem muita alegria e também inúmeras interrogações, não é????? Mais um dia seu que nos chega, em bela crônica. Abraço.

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  8. A calma que me transmites é tão boa e obrigado por este diário. Hoje bem precisava disso porque são esses seres como o Miguel que nos dão a volta e neste momento vou ver as mensagens deles no "grupo da família".

    Beijos e um bom fim de semana

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  9. É uma boa ideia, passar o sentir do dia para um diário. É algo que nos desvia da insegurança e do receio. Vem o Miguel e tudo muda. Conheço muito bem a riqueza do cenário.

    Beijo, AC.

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