quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

DIÁRIO - 15

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Depois do almoço gosto sempre de fumar um cigarro. Bem sei que não é muito saudável, mas um prazer é um prazer, embora não por inteiro, pois sinto sempre um certo grau de culpabilidade. Herança judaico-cristã, dizem-me, embora em modo superficial.
Hoje, após mais uma refeição, fui lá para fora - nunca fumo dentro de casa, é ponto assente - para dar vazão à minha costela epicurista. Enquanto fumegava, com o olhar atento à envolvência da paisagem, dou por mim a observar uma ave de rapina (um açor, um milhafre, um bufo, uma águia? Não consigo vislumbrar...) a planar, tranquilamente, não muito longe do local onde estava. O cérebro, esse eterno desconhecido nas suas múltiplas capacidades, focou-se, de imediato, vá lá eu saber porquê, na designação "ave de rapina". Que eu saiba, e desculpem-me a ignorância, essas deslumbrantes aves apenas se limitam a procurar alimento, e só o estritamente necessário. Quem rapina são alguns de nós, humanos, seres de humores muito variados, que não se coíbem de mamar numa teta até ela estar completamente seca. Sem se preocuparem com as consequências ou, como agora se diz, com os danos colaterais.
Tento fixar-me nas coisas boas do género em questão, que muitas há, e reivindico para a memória as pessoas que, de múltiplas formas, se esforçam, e de que maneira, por tentar que o mundo continue a girar, apesar da pandemia. Esses são os meus, os nossos, verdadeiros heróis.


8 comentários:

  1. Gosto muito destas suas pinceladas escritas.

    Boa tarde, sô AC

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  2. Também já usufrui MUITO desse prazer. Já sofri MUITO com a falta desse prazer. Hoje, USUFRUO MARAVILHOSAMENTE da falta do primeiro prazer..... Não fume.
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    Deixando um abraço
    Cuide-se
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  3. E afinal, a ave de rapina desapareceu do teu campo visual ou sabes para onde ela se dirigiu?... :)

    Um abraço, AC!

    Bolas! Ainda não consigo usar a conta habitual da Janita.
    Apenas funciona no meu blogue e noutros de outras plataformas. :(

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  4. Vejo aqui uma coisa curiosa: sempre que aparece uma ave de rapina, todas as outras aves se unem para expulsá-la. É uma gritaria terrível. Devem entender que a maior ameaça é contra os ninhos. Quando se trata de defender os filhotes, não há tolerância à presença de invasores.

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  5. Essas pessoas são as maiores vítimas da inconsciência de uns poucos.
    Aquele abraço

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  6. "Quem rapina são alguns de nós, humanos, seres de humores muito variados, que não se coíbem de mamar numa teta até ela estar completamente seca. Sem se preocuparem com as consequências ou, como agora se diz, com os danos colaterais."

    Não podia estar mais de acordo e vou agora fumar o meu cigarrinho à janela porque não fumo dentro de casa e muito menos na casa dos meus. Á também nunca joguei a beata para o chão e ou através da janela.

    Os teus heróis também são os meus e para todos eles O MEU MAIOR OBRIGADO!

    Beijos AC e dizes tanto em tão poucas palavras e digo que sorte para o teu Miguel:))))


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  7. Bom dia, muito interessante seu texto, sua descrição da visão que vislumbrava. Uma ave de rapina, a qual lhe trouxe outras reflexões, e bem pertinentes ao momento."Esses são os meus, os nossos, verdadeiros herói".Sem sombra de dúvida são os meus também. Abraço!

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  8. Você vê os dois lados e fixa-se no louvável. Rapinam os seres humanos, sem constrangimento. Seu olhar e seus pensamentos sempre estão muito bem evidenciados em seus textos. Abraço.

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